sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ilusionista de mim mesmo

Criei na farsa das palavras um mundo inteiro
Nesse planeta exagerado fiz me rei, poeta e cavaleiro
Nas voltas que por ele dei, só uma coisa não notei
Uma verdade inglória...
Mesmo nele sou rei miséria, poeta pateta e cavaleiro errante
Minto e brinco, danço e rio...
Enquanto aqui estiver mantenho meu mito

sábado, 25 de dezembro de 2010

Para uma amiga

Apesar de ser mais uma data comercial e religiosa (ambas coisas que não me chamam atenção), o natal ainda sim é uma pausa nessa coisa louca que é o ano. Assim como o ano novo, que de novidade não tem nada.

Se essas festas são boas ou ruins depende, em parte, de como a gente decide encarar as coisas. Claro que muitas vezes não estamos nem um pouco a fim de fazer nada e o mundo não ajuda também...

Natal é "família"... coisa de definição cada vez mais imprecisa. Esse ano passei o natal longe da minha, mas fiz do meu grupo de amigos que estava presente a minha família para que essa data ter algo de diferente.

Não encorajo aqueles que não gostam da data que sejam sínicos e achem que com um passe de mágica as coisas vão ser lindas e perfeitas. Mas seria bom mudar um pouco as perspectivas, o ano já é tão pesado e drena nossas energias ao extremo.

Sem uma pausa disso, sem uns dias para pensar em algo mais do que como as comemorações são hipócritas e vazias – como verdadeiramente são – vamos aumentar o desânimo e o desalento sobre tudo e todos.

O pessimismo é uma coisa viciosa, eu mesmo sou um viciado nele. Mas pelo menos uns dias, umas horas ou o que for seria bom esquecê-lo um pouco. Olhar para pessoas ao nosso redor que ainda acreditam nas belezas das tradições e se deixar levar pela corrente. E não é preciso acreditar, apenas deixar de lado essa predisposição negativa.

Deixo meu FELIZ NATAL e FELIZ ANO NOVO, espero que todos possam se desligar da vida real por esses dias. Para que o próximo ano, que nem vai ser diferente desse, pelo menos comece com um pouco de energia.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pensamento do dia

Aos homens afortunados estão destinados grandes feitos, aos desafortunados lhes restaram as grandes decepções.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Au-au... sim senhor

Vivemos num mundo que nos trata como cachorros bem treinados, é muito engraçado (trágico) poder se dar conta disso. Desde pequenos nos ensinam através de recompensas. Primeiramente são palavras amáveis quando se faz algo certo e repreensões se não – umas palmadinhas também, sem hipocrisia.

Um pouco maiores somos jogados no centro de treinamentos mais cruel: a escola. Lá somos obrigados a engolir ensinamentos pré-programados que não privilegiam habilidades individuais, e sim obedecem a um padrão.

Nesse cenário a recompensa mais óbvia é a nota, mas não se engane: essa não é a única moeda de troca e, em alguns casos, está longe de ser a mais importante. Fica um tanto difícil perceber quais as  prováveis recompensas nesse mundo? Pense um pouco... rótulos e prestígio servem bem para tal finalidade. Além do conteúdo programático somos treinados na “arte” da inteiração social, ou de como evita-la.

Crescemos e nos diferenciamos dos cães: com o tempo o treinador vai diminuindo o prêmio do animal para que ele passe a realizar a tarefa ensinada de maneira automática. Nós, por outro lado, necessitamos de recompensas cada vez maiores para poder manter a realização de uma tarefa, ordem, ou mesmo cortesia.

Quando adultos o premio que grita e rege a todos é o dinheiro. Novamente vou pedir que deixemos a hipocrisia de lado por um momento. Ninguém se mata de estudar, faz um curso superior – um outras coisas mais – pensando em morrer de fome.

Por meio do dinheiro conseguimos outras formas de satisfação. Carros, viagens, roupas, jóias... Pense nisso um pouco: será que você realmente daria o sangue e tudo mais se, no fim do mês, não houvesse nem um ganho pessoal? Aos que digam que sim... eu até acredito. Sei que podem existir outras motivações, mesmo sendo o apelo financeiro bem forte. Mas pense bem.

E as pessoas caridosas? Aquelas que praticam desapego e ajudam aos que precisam? Como poderiam elas estar enquadradas no mesmo ponto? Então observe um pouco: pessoas assim veem (inconscientemente, ou não) na sua ação um remédio para o próprio sofrer e necessidade. 

Ao ajudar alguém que passa por uma situação de desespero e miséria esquecemos nossas decepções e nossas tormentas, isso é algo impagável. E apesar de ser uma forma mais nobre de recompensa, no fim é praticamente a mesma coisa (não que eu ache isso errado!).

Voltando ao resto do mundo – que não é tão bonzinho assim – o tempo todo há uma busca por ter mais e mais. E é certo que após todo o caminho percorrido o contentamento vá se distanciando em uma progressão geométrica da nossa realidade. O material não consegue suprir a falta de algo mais, impossível de se descobrir.

Existe uma forma de mudar tudo isso? Poderíamos aprender de maneira distinta? Somos tão ruins assim que só por meio de prêmios – e às vezes nem assim – aprendemos e aplicamos as coisas que deveríamos praticar normalmente?

Essa necessidade que temos vai consumindo nossas mentes, corpos e os recursos do planeta. Um dia não haverá mais recompensa e assim sim saberemos o que é o caos. Com um pouco de sorte talvez  comecemos do zero, poderiamos até fazer tudo diferente.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Liberdade... não, um livro

A liberdade, um tema de infinitas possibilidades. Poderia usar qualquer uma de suas ramas para chegar a um tema relevante e igualmente fascinante. Talvez a inspiração trazida por minha atual leitura tenha interferido em minha escolha.

No inicio desde ano fui por duas ocasiões persuadido com o nome do autor Erich Fromm, e as pessoas que o citaram mereciam uma consideração quanto a uma opinião literária. A primeira foi uma linda dinamarquesa que cursa medicina em seu país, o segundo um simpático vendedor de livros argentino. A ambos conheci no hostel onde passei minhas primeiras semanas em Buenos Aires.

Mesmo sendo tão bem recomendado tardei uns bons meses para adquirir um de seus livros. Um pouco pelo receio de que, estando fora do Brasil, sua leitura me resultaria um tanto mais complicada em outro idioma.

Por fim meu receio se tornou um incentivo e o comprei pensando em quão boa oportunidade seria melhorar meu entendimento com a língua espanhola – pequeno adendo: o autor é alemão – e ainda poder matar minha curiosidade quanto um autor que me foi tão bem recomendado.

E ao começar a ler o título “Medo da liberdade” me encontrei em total sintonia com o tema na forma em que era abordado. Estando fora do meu país e morando sozinho pela primeira vez o livro me caiu como uma pintura dos acontecimentos que me circundavam, seja de forma direta ou mesmo indiretamente.

Outra surpresa agradável foi perceber que sua leitura muito fácil e até divertida, sendo pouco necessário recorrer ao dicionário em busca de alguma palavra esdrúxula. Mais que isso, sua leitura é algo para se degustar, parar e refletir.

Se tardo tanto em termina-lo se deve a uma interrupção um tanto forçada que me manteve longe de suas páginas por alguns meses. Vergonhoso, admito. Retomar o livro foi tão prazeroso quanto foi abrir suas páginas pela primeira vez, procuro medir minha ansiedade para que não se torne somente um entretenimento.

Obviamente deixo aqui minha recomendação. Se em “español” não foi complicado não vai ser o português que lhes fará dano. Apenas mais uma coisa: eu não adiantei nem um dos temas do livro aqui, é mais divertido descobrir quando for ler.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Teatro do sonho

Abre-se a cortina, no centro do palco surge uma figura desolada. Parado parece suplicar aos céus por uma resposta. Há apenas uma luz muito forte sobre ele e é impossível ver seu entorno. Seus olhos fundos são uma mistura de lágrimas e experiência, talvez com uma pitada de insónia. Suas roupas são simples e puídas pelo tempo.

Quão bizarra me parece tal ser, e ao mesmo tempo me causa uma empatia sem igual. Sinto um frio na espinha ao tentar desvenda-lo. Deus... seus traços talhados ardilosamente pelos anos refletem uma imagem assustadoramente familiar.

A súplica vira um pedido de perdão e, seu corpo trémulo, faz um esforço monumental para manter-se de pé. Impossível, a luz parece esmagar seu corpo de forma cruel e, reduzido aos joelhos, afrouxa compulsivamente a gravata listrada. Transpira, medo e angustia. Na verdade o suor verte como uma cachoeira violenta. Alguns pingos, fungitivos, se arrebatam no chão, suicidas que apartam daquele corpo velho e cansado.

Escuto murmúrios vindos de onde seria a plateia. Mesmo na impossibilidade de distingui-los soam ameaçadores. Seriam eles ecos do passado? Velhas farpas e descontentamentos que ficaram encrustrados no peito. Deboches, brigas, recordações torturantes que miram o velho solitário e moribundo.

Porque um nó tão forte me aflige a garganta? Aquela figura simples e atordoada me faz recorrer sentimentos tão nobres, embora seja desmantelado na minha frente.

Ele agora olha na minha direção, sua expressão é de profunda vergonha. Atónito diante desse fato me dou conta do que realmente estou vendo. Esse senhor que se retorce e finda na minha frente... essa alma resvalada e doente... sou eu.