quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

De olhos fechados - das cartas que não mandei

Essa noite sonhei com você. O que nem é algo tão estranho assim, costuma acontecer com alguma frequência.

Estávamos em uma festa cheia de gente conhecida e outras que nunca vi. Você ia embora, te segui.

Sentados no meio-fio conversavamos olhando os postes e um céu um tanto nublado.

Sorriamos, mas não estou certo se era um para o outro. Não importa.

Você me falava de seus planos, com um evidente brilho nos olhos. Eu escutava cada palavra sua como uma oração.

Ainda com um sorriso perguntei: "e nós?"

Você me olhou profundamente, podia notar um desconforto. Na verdade um certo ar de impaciência.

E logo a resposta: "Calma ai, tudo em seu devido tempo."

Com um nó na garganta, acordei. Ainda era noite, eu ainda estou longe... estamos longe.

O que esse sonho quis dizer? A sonolência de um despertar prematuro não me deixou pensar.

Alguns momentos depois mergulho em um novo sonho, mas nesse não havia você.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

E se eu não penso como você?

Acho extremamente divertidas as contradições desse mundo. E é por isso que sou tão apegado a elas quando escrevo. Hoje quero falar de opiniões. Nada mais justo, uma vez que utilizo esse espaço com a finalidade de expor as minhas.

Todos pensamos - gosto muito de acreditar nessa ideia - e, por isso mesmo, temos opiniões. É algo natural e também algo que somos cobrados o tempo inteiro.

Até então estamos no óbvio, certo? A parte divertida vem agora: somos cobrados a tomar partido sobre tudo, mas já existe uma opinião considerada certa. Entendeu?

Tudo bem, eu desenho... Somos obrigados a dizer se consideramos algo certo ou errado, bom ou ruim, válido ou inválido. Em contra partida não podemos escolher uma opção que seja divergente da moral e da ética vigente - além de umas outras bobaginhas convencionadas. No fim da historia isso faz com que todos - me incluo - formem uma massa muito bem enviseirada.

E sabe quem manda nisso? Os velhos nomes de sempre, mas vale a pena refrescar a memória: Os meios de comunicação (principalmente os de massa); o governo (não sou anarquista!); e as instituições religiosas (se acharem ruim que eu cite, nem ligo...).

Nessa brincadeira já mandei pro espaço a máxima de que "religião, política e futebol não se discutem". Pra mim, por que não? Respeito, me dirão alguns. A coisa é: quando falamos de opinião não há acertos nem erros, somente pontos de vista. Assim sendo, acredito ser mais perigoso para esses temas serem discutidos do que qualquer questão envolvendo uma falta de respeito ou não.

Se tenho uma crença, ela está na divulgação das ideias. Através das controvérsias se constroem novas "verdades" e se derrubam mitos. Sem questionamento não há crescimento.

E é justamente isso que as opiniões "certas" evitam: confrontos. E estes, se bem administrados, só têm a acrescentar. Por ser a palavra "confronto" tão pesada é que se tem medo de usa-la? Confrontar não subentende algo negativo, não deveria.

Tomar partido não quer dizer encerrar uma discussão. Muito pelo contrário, é justamente nesse ponto que vemos com maior clareza o assunto. Assim, quando alguém nos questiona podemos sustentar uma crença pessoal. Apenas lembre-se: não é proibido mudar de ideia.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Insônia

Quando não se consegue dormir todos os ruídos da casa são ampliados.

Do quarto escuto o relógio que está na sala e, compassadamente, movimenta o ponteiro dos segundos. Um pouco mais ao fundo, mas ainda audível, está a geladeira. Num som suave, por apenas estar mantendo sua temperatura interna. E, de tempo em tempo, escuto algum veículo que passa na rua.

Me dou conta disso tudo sem ao menos ter de me levantar e sem ter a janela diretamente voltada pra rua. Até então não há nenhum problema, o pior dos ruídos está bem ali: dentro da minha cabeça. Sim, também os pensamentos são beneficiados pelo "silêncio" trazido pela noite.

O rolar de um lado para o outro da cama é quase um ritual. Como a dança da chuva, mas aqui estou evocando o sono. Abrir os olhos é um erro. A escuridão beneficia pequenas luzes que são ignoradas durante o dia. E ali está ela: a luz do stand by da TV... E com esse mísero ponto de luz esboço algumas formas já conhecidas do quarto.

Sou pego pela curiosidade e, em um movimento automático, seguro meu telefone e acendo sua tela. Um erro inocente. A luz do aparelho me cega momentaneamente. A sensibilidade adquirida pela escuridão tem esse preço. Levo alguns minutos - ou seriam segundos? - para poder olhar diretamente sua tela. E me arrependo mais uma vez. Saber as horas me desanima pelo rápido cálculo mental de  "por quantas horas ainda posso tentar dormir". Sempre poucas.

Deixo o celular de lado, o quarto volta a escuridão, e a luzinha da TV é irrisória novamente. Agora só me resta voltar ao meu ritual, assim quem sabe possa aproveitar o tempo que tenho. Amanha é um novo dia e minha próxima insônia pode estar em seu final. Não há problema, é só mais uma história que se repete.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Acróstico

Nada detém seu intenso querer
Instintivamente selvagem e livre
Naturalmente insaciável e sem controle
Faminta, clama o ardor carnal
Ostenta seus sonhos de forma tangível
Mastiga o bom senso, os pudores e a moral
Analisa os momentos com furor e anseio
Nada em oceanos de infinitos prazeres
Infalível em cada nova conquista
Acaricia impacientemente os austeros
Calculando sua próxima proeza com astúcia
Assim finda em grandes rubores... desaparece

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Viver eterno

O homem busca a imortalidade. Mesmo em seus primórdios o sonho do viver eterno é o tema central de lendas e historias que transitam por incontáveis gerações.
Por que tamanha vontade? Seria mesmo a vida eterna um dom? Respostas de cunho muito pessoal. E encontraremos militantes fervorosos tanto para o sim quanto para o não.

O mais importante aqui é o fato de que a imortalidade vem do desejo de estar presente. O que isso quer dizer? Quer dizer que a simples ideia de ser esquecido causa um pavor desmedido, pavor que se soma ao medo da morte. Na mente a morte é como um esquecimento, ausência, vazio.

Nosso imaginário supre esse estado de vazio com ideias, sonhos e incontáveis mecanismos de evasão. É do medo da morte que surge a ideia de uma vida após a que possuímos. Seja ela em forma de uma nova encarnação, ou através de um transcender que ultrapassa o entendimento humano.

O impossível de se suportar é o esquecimento. O que mais teria motivado ao homem a criar marcas únicas? Mais do que a necessidade de comunicar-se, é uma forma de preservar um pedaço de si em uma rocha, manuscrito, livro, ciberespaço...

A tecnologia avança e, com isso, se torna mais fácil o esquecimento e a tendência que as coisas - pessoas, momentos, lembranças - têm a cair no ostracismo. Realidade presente e inevitável. Da maneira que somos atingidos por rios e rios de informação fica difícil lembrar do café da manhã.

O esforço por imortalizar-se é como uma Ilíada. O problema é que nem todos são como os heróis épicos e muito provavelmente não sairão da sombra de seu anonimato. Por melhor que seja a intenção não serão todos que atingirão a "imortalidade". Mas esse não deve ser o propósito de nossas vidas. Viver em busca de algo assim é como perseguir o horizonte.

O melhor a se fazer é viver bem e buscar ser sempre bom. Para que assim eu possa ser o melhor e me tornar imortal!? Não, para que a sua vida e a daquelas pessoas a sua volta seja melhor. Para que o seu entorno seja sempre um ambiente em que sentirá confortável e em paz.

Quem busca a imortalidade não saberá desfrutar a vida. Mas aquele que desfruta bem das oportunidades - sem prejudicar ninguém - vai ser lembrado por gerações.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Qual é o seu deus?

Mais uma vez me falam de deus, de Deus, de deuses. Mais uma vez tentam me fazer acreditar que sou um nada, um grão de areia sem importância.

Seria eu uma coisa tão previsivelmente desprezível que tenho de crer em tudo que me dizem? E porque querer sempre as pessoas de joelhos, se erguidos e de peito aberto que verdadeiramente conseguimos alcançar nossos objetivos.

Esses são os deuses apresentados: cruéis torturadores, egocêntricos e narcisistas. Como poderiam ser tão contraditórios.

Querem o amor e o bem, condenam para a eternidade. Desejam ser adorados todo o tempo, cobram a atenção espiritual e material de suas criações. Criaram todas as coisas, mas sua criação favorita, -  e dotada com o dom de mudar o mundo - é feita a sua imagem e semelhança.

Dentro de sua magnitude de infinito conhecimento e poder cria quebra-cabeças infundados para que o homem se sinta ainda mais dependente e ínfimo.

Quão bondoso, condolente deus. Que em algumas de suas imagens perdoa os erros de todos que queiram o perdão e em outras condena sem direito a julgamento por qualquer erro, ou mesmo apenas por ter nascido.

Quantas imagens, quantas alternativas, quantos "combos"...

"Senhor, gostou da nossa apresentação standard? Vem com um Deus compreensivo e complacente. Apenas necessita de uma doação mensal do seu dinheiro durante toda vida e desfrutarás de uma eternidade satisfatória"

Hum.... não sei.

"Não se preocupe, caso não tenha gostado também temos aqui uma edição premium: adoração cega e sem questionamento. Acompanha alto flagelo, mas aceita umas escapadelas. Ou então..."

Acho que eu não vou querer, obrigado. Deuses e deuses, mas qual deles é o certo?

"Todos os caminhos levam a deus..."

Então porque tenho de escolher entre ir com esse, ou aquele? E por que se sigo esse odeio aquele!? E por que uns podem ter mais liberdades e outros nem uma? Por que há um deus que subjuga as mulheres?! Não somos todos iguais!?

"Esse é o conceito de outro deus..."

E se eu escolho apenas pensar que o mundo é maravilhoso, que a natureza é uma imensidão rica e que o universo é assim impossível de se prever. E se eu escolho pensar por mim mesmo. E se eu não quiser seguir há nem um desses modelos. Se eu não quero nem um dos "combos"... como vou fazer?

"Você tem de escolher um deles, ou vai ser considerado a escória do mundo. Um descrente em tudo!"

E porque quem escolhe não acreditar em nada é a escória? Não é apenas uma escolha!? Não tínhamos o livre arbítrio?

"Sim... para escolher em que acreditar. Não acreditar em nada não pode."

Desculpa... e acreditar em algo que é só pra mim, posso?

"Não se recomenda, pode acabar sendo confundido com algum tipo intolerável..."

Mas... tudo bem, ainda sim escolho pensar por mim. Sei como sou pequeno no meio de todas as coisas que existem. Sei que existem escolhas e conceitos, mas os absurdos não poderiam parecer mais gritantes quando vejo certas cenas.

Apesar de parecer um julgamento - não queria que tivesse esse tom. Pensamentos e escolhas não podem ser medidos como certos ou errados. Peço apenas duas coisas simples - não sempre aplicadas - coerência e tolerância.