segunda-feira, 30 de maio de 2011

Anti-conspiração

Nem tudo no mundo é maldade
Gosto de crer nas casualidades
Essas coisas que as sem vontades
Fazem aumentar eventualidades

Seja boa, ruim, indiferente
Não creia ser por ti unicamente
O universo, ou um passante
Maquinam plano incessante

Mais do que regras
Não existem rédeas
Nem tragédias

Apenas cenas de um filme
De um personagem pacato
Surpreendido pelos fatos

sábado, 21 de maio de 2011

Entrincheirado

    Era uma linda noite naquela pequena ilha tropical no meio do pacífico. A visão das estrelas e a lua pela metade abundavam o céu praticamente limpo de nuvens, talvez um presságio do que estava por vir.
    Tirou um cigarro do bolso e, usando apenas uma mão, acendeu-o. Não podia dispor da outra mão para isso, ela repousava sobre o gatilho do rifle que – do topo da trincheira – apontava para a mata escura. Era sua primeira semana na guerra, até ali não tinha enfrentado nenhum japonês. A batalha era apenas contra a multidão de mosquitos e insetos que castigavam toda companhia noite e dia. Muitos de seus companheiros sofriam com febres e tremores constantes.
    Pra piorar chovia muito, essa noite estrelada e limpa era um milagre depois de todo um dia de chuva ininterrupta. Ainda assim, o cheiro de terra molhada e mato imperavam no ambiente e a umidade cobrava seu preço: meias e outros pedaços de roupa estavam podres causavam coceiras e feriam a pele.
    O ar fresco da noite transportou nosso soldado para um lugar a milhares de quilômetros dali. Lembrou-se da pequena cidade bem no interior do Wisconsin, de fazer planos com seus amigos. Em seguida os viu: um a um indo embora em seus pomposos uniformes de guerra, sentiu-se sozinho e culpado. Passados alguns meses: alistou-se.
    Antes de ser mandado para aquela ilha foi informado sobre a morte de dois ou três companheiros de infância. Cartas, bandeiras, choro e honrarias mil, o que queria dizer tudo aquilo? De quem é a culpa por tantas famílias do país desmanteladas tão brutalmente? Tudo que o rádio e seu treinamento lhe responderam foi que a culpa era dos alemães e dos japoneses, sendo a única alternativa responder firmemente – e isso significa só uma coisa: muito sangue ainda seria derramado de ambos os lados.
    Foi isso que ele aprendeu durante quase dois anos de treinamento, as palavras de ordem sempre foram: “O inimigo é impiedoso! Ele não se rende e não desiste de lutar, mesmo ferido mortalmente ele pode e vai te matar se tiver a chance.” Sentiu um tremor subir a espinha, mas não era a malária. Era medo, em seu estado puro e muito bem escondido por trás da cara de soldado padrão.
    Do alto de seus vinte anos ele não tinha uma noção muito grande de mundo. De fato o mundo para ele se resumia a pequena cidade que deixara dois anos antes, ao ingressar no treinamento que o tornou um marine – alguém pronto para defender seu país, mais que isso: alguém pronto para MATAR em nome dele.
    Antes pensava que a realidade a sua volta era suficientemente grande, agora se sentia ínfimo e desimportante. E mais, tinha vergonha de si mesmo ao relembrar coisas simples que descobriu somente após sair do conforto da sua casa. Ao mesmo tempo sua grande vontade era voltar correndo pra lá e escutar as noticias noturnas com seu velho ao lado da lareira sem ter de se preocupar com a possibilidade de levar um tiro, ou voar em pedaços (atingido por um morteiro ou granada).
    Sentia falta das pessoas, e dava graças aos céus que seus outros irmãos ou eram muito novos, ou eram mulheres e não podiam lutar como ele. Assim sabia que mesmo não voltando pra casa haveria quem pudesse confortar sua mãe e ajudar ao seu pai com as contas.
    Seus olhos pesavam – o sono era traiçoeiro – sua cabeça levou a boca o gosto do café quente com bolinhos que sua mãe fazia nos dias de chuva. Um luxo que, segundo seus oficiais, voltaria a desfrutar antes do natal.
    As noticias (sempre muito positivas) dos superiores pareciam não surtir mais tanto efeito. O moral dos soldados se dissolvia pouco a pouco com as chuvas e a falta de “ação”. Alguns chegavam a questionar se estavam no lugar certo, outros apenas rezavam para que os japoneses não chegassem nunca. Nosso soldado apenas achava graça quando alguém comentava algo, por dentro o misto de vontade de lutar e o medo de morrer faziam um perigoso dueto.

(continua...)

domingo, 15 de maio de 2011

Língua sem meta

Tenho montes de textos
Uns pela metade
Outros menos da metade
Quem sabe pouco mais da metade

Há ainda aqueles que brincam
De estar pelo quase
No ponto de recomeçar
De se apagar, chorar...

As palavras são vivas
Crescem, amadurecem
Espicham, mudam
Brincam, dissimulam

Ah... grandíssimo mundo!
Que me faz surpresas
E ilude,
Alude coisas maiores
Sempre tão melhores

Num mundo de papel
Milhares de torres de babel
Desmoronam adjetivos
Verbos e substantivos...

Lindo é o caos literário
Desses sem regras
Bem marginal
Estúpido e banal

E assim vou levando
Sem nada de sério
Nessas brincadeiras
Com meus filhos de papel

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Depois de um fim de semana de jogos

    Jogos de tabuleiro fazem falta. Quem não gosta de se sentar um dia qualquer com os amigos e ficar por horas jogando dados e rindo um do outro? Tá bom, eu sei que tem gente chata nesse mundo e que adora contrariar, mas em geral é bem gostoso tirar um tempo pra isso.
    A verdade é que o principal nem chega a ser o jogo, ele apenas serve de desculpa para poder reunir um bom grupo em volta da mesma mesa. Pra poder ter um pouco de contato real com pessoas que a gente se sente bem.
    Entre uma rodada e outra há muito tempo para conversas e piadas. O gostoso é o "estar junto”. Uma pitadinha de competitividade convém, afinal de contas se é pra jogar por que não querer ganhar?
    Mas nada de exageros (digo a mim mesmo), nada de jogar o tabuleiro pro alto! – em geral é assim que acaba uma disputadíssima partida de war.
    O banco tem de ser o cara mais honesto da turma. Na falta de um, melhor manter a fiscalização – ou dividir os lucros...
    Para uma boa mímica nada melhor que copiar os acertos dos outros – uso o truque da “meia” até hoje – e as vezes os erros também – dica: nunca tente desenhar objetos no ar... não costuma funcionar.
    Divertido também quando a nossa ficha, quanto uma dica de um motivo de assassinato, só cai umas horas depois: “A filha da tia... que diabos a prima tem haver com o caso? Não tinha nenhuma prima... ah! Prima! Obra prima, claro!” e nem pense em acordar alguém para contar isso, ou você poderá virar o próximo caso que algum detetive vai ter de apurar.
    Quanto tempo faz desde a ultima vem que você juntou seus amigos pra fazer isso? Quem sabe já não tá na hora de tirar um desses jogos do fundo do armário e juntar um todo mundo pra rir e curtir um desses tão comuns dias nos quais não temos nada que fazer, nem lugar pra ir.

quinta-feira, 5 de maio de 2011


A escuridão sussurra
Ela é leve e doce e convidativa
O único que lhe falta é o calor,
Esse se torna uma brisa fria – quiçá congelante
Embalando o sono daqueles que escutam seu chamado
Pois aquele que ouve seu sussurro será seu amante por uma noite
Bailará nos salões sombrios a última valsa
Sina dos escolhidos pelo seu abraço
Desfrutar para sempre de um sono sem sonhos

domingo, 1 de maio de 2011

Como você se vê daqui dez anos?

    Daqui dez anos? É uma pergunta tão difícil de responder. Não sei nem mesmo como vou estar daqui alguns dias, planos mudam o tempo inteiro. Não só os planos, o mundo muda. Todas as infinitas variáveis que influem nas coisas que vão acontecer daqui a um minuto, dez minutos, ou um dia vão se alterando e interferindo umas com as outras.
    Uma imensa bola de neve e que se mistura a um efeito domino e se alastram na confluência de fatos, ações e omissões que nos cercam. Se me perguntassem há dois anos se eu imaginaria estar onde estou diria que não, que é impossível, sem pé nem cabeça.
    Um ano é muito tempo, um ano não é nada. Como uma moeda o tempo costuma ter dois lados: em um é impossível se prever, porque está sempre longe; no outro faz graça ao passar mais depressa do que tínhamos calculado.
    E depois, pra responder uma pergunta dessas teria de conseguir visualizar a imagem de um “eu” que está muito longe do meu presente. Uma pessoa que talvez nem vá existir no futuro, uma projeção bastante errônea e infiel do que vai ser.
    O pior é que a única coisa que vem a minha mente é um quadro negro, um plano vazio. Nem mesmo consigo pensar numa historinha divertida para entreter meu interlocutor. Se ao menos esse vazio fosse branco eu ainda diria que há um quadro a ser pintado, mas ele é negro! Como se já estivesse completamente preenchido por algo que se esconde.
    O futuro é oculto, impreciso e não presumível. Se fosse diferente as suposições a seu respeito não fariam tanto sucesso. Temos curiosidade e medo de saber o que nos aguarda. Em alguns ganha a curiosidade em outros o medo – a indiferença é quase como o medo: se não penso a respeito não pode me fazer mal.
    Essa é uma batalha que toma se dá dentro de nós, alternando entre consciência e inconsciência. Lógico que há mais coisas que se pensar além do futuro: o passado. Engraçado jogo que nos leva pra frente e pra traz, nos negamos continuamente fixar nossas cabeças no momento preciso que vivemos. Com isso alternamos nossas fantasias entre o que já foi e o que vai ser.
    O que vai ser? Não sei e me dizem perdido por isso. “Te falta metas, te falta algo que o impulsione...”, eu sei da verdade que há nessas falas. E juro estar buscando uma forma de mudar isso. Quero pintar meu quadro sobre “como me vejo em dez anos” estando seguro que a imagem que nele se apresenta seja atingível e satisfatória.
    Mas enquanto não encontro uma resposta... te incomoda muito se eu continuar com minha cara sem graça e o silencio? Prefiro pecar pela omissão ao invés de contar mentirinha qualquer. De todos os modos: assim que eu souber prometo que conto.