sábado, 21 de abril de 2012

Busca


Pobre diabo, levado desde cedo
Aos austeros recantos do sepulcro
Do dito salvador dos justos

A mente libertaria é domada
Nas doutrinas torna a dor
E a obediência cega

Nega a grandeza da vida
Entrega se ao post mortem
Agoniza dia após dia
Espera recompensa divina

Entre incertezas, por vezes, vacila
Punindo-se ao retomar ao torpor
Prefere a vida sofrida
A queimar no fogo do horror

Se será acolhido entre os justos,
Ou terá o eterno sono sem sonhos
Só o tempo dirá, com um susto
Ao findar em seu leito de morte

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Do lado errado


Do lado da linha que separa certo e errado encontrei uma trilha
Desse lugar sinuoso e obtuso tracei toda uma vida
E partindo daquele ponto busquei coisas findas
Para não cair nas ciladas de minhas próprias manias

Do lado de lá do horizonte que separa bonito e feio vi uma ilha
Com milhões de espelhos que refletiam tudo que se imagina
A multidão de sombras apagadas buscavam suas miraculosas visões
Porém eram apenas sombras, mais e mais a se alimentar de ilusões

Do lado da fronteira dos sonhos e pesadelos me perdi num pântano
Cujas trevas e árvores engalfinhadas me guiaram por seus cantos
Lá torturantes imagens: passado, presente, futuro brincavam de roda
Suas canções arderam meus ouvidos e sapecaram toda minh’alma

Ao fim da jornada pus-me a pensar sobre tudo que havia visto
Seja pelas dores ou dissabores trouxe no peito um conflito
Afinal se mesmo aquelas linhas por vezes se faziam bailarinas,
Quem poderia dizer realmente em qual dos lados estaria?

domingo, 8 de abril de 2012

Por um abraço


               O problema do ser humano é que sempre haverá um dia em que ele acordará sozinho louco por um abraço, ou qualquer mostra de carinho. E justamente nesse dia estará abandonado a seus pensamentos, que torturantes aranharam a sua sanidade pouco-a-pouco.
               É aquele dia em que olhamos pro mundo como se ele quisesse cair sobre nós de uma vez só. É o dia em que todas as nossas preocupações resolvem acordar – juntas – como uma armadilha violenta. O dia no qual uma simples folha de papel parece ter o peso do mundo.
               E a única coisa que poderia nos salvar é um simples abraço, talvez não tão simples assim... Um abraço de se perder no tempo, um de carinho verdadeiro cheio de gratuidade. A vida é dura de mais pra ser vivida sozinha, mesmo que não sejamos incompletos somos seres sociais que dependem uns dos outros. E tão pouco somos perfeitos pra não admitir que alguém nos ampare.
               Talvez a busca inquieta que temos por encontrar alguém se resuma a esses momentos de fragilidade. Queremos alguém que esteja lá pra ser mais do que apenas alguém que caminha por nossas vidas, mais do que apenas um rosto conhecido que um dia cruzou nosso caminho. É preciso descobrir no outro toda a força que nos falta e estabelecer com ele uma aliança de segurança e conforto.
               Uma via de mão dupla, sem sobreposição de poderes ou vontades. Apenas dois que, pela mutua vontade e sabor, decidiram alicerçar as lacunas de seus vazios. Lançar-se em uma relação é uma forma de buscar o equilíbrio para a vida, mais do que isso é uma forma de aprender mais sobre si mesmo.
               Descobrir os próprios defeitos e virtudes, caminhar aprendendo a dividir. Dividir tudo: prazeres, dores, esperanças, desenganos, sonhos e medos. E ser para o outro o porto seguro que buscamos para nós mesmos, essa é a troca. Ser para o outro tudo aquilo que queremos que ele seja para nós, aprendendo a respeitar limites e temperamentos.
               Seres humanos são complexos e exigem tempo e paciência para serem compreendidos. Não se sinta melhor do que ninguém, você é tão humano quanto qualquer outro, tão cheio de defeitos e manias intrigantes quanto aqueles que você aponta. Tão difícil e temperamental quanto aqueles dos quais você reclama continuamente.
               Assim mesmo haverá alguém com quem você se sentirá seguro. Alguém que aprenderá a conviver com todas as suas manias chatas e loucuras. Enquanto você descobrirá o quanto as manias loucas dessa pessoa te fazem rir, tornando-a ainda mais especial. Aí então você poderá acordar num dia em que tudo parece dar errado e saber que terá o conforto do abraço que irá afugentar todos os demônios e curar suas agonias.

domingo, 1 de abril de 2012

Primeiros dias

Primeiros dias são sempre primeiros dias. Recheados de ansiedade com uma pitada de medo pelo desconhecido. Uma nova rotina, antes de fazer-se rotina, é toda novidade e vida. Até que caia no desencanto maquinado do “todo dia”.
Rostos novos, lugares novos, ares novos... O que buscamos dessas fases? Sacudir nossas sanidades em busca de outro olhar sobre o mundo, até o dia que descobrimos que não importa o quanto busquemos lutar alguma rotina vai sempre nos ganhar.
E mesmo assim lá estava eu, naquela sala de aula tão cheia de desconhecidos com seus semblantes que variavam de perdidos a uma contida empolgação. Eu mesmo tinha tantas expectativas que – provavelmente – tinha no rosto estampado toda a inocência que se pode encontrar em um primeiro dia de aula.
À medida que as semanas caminham aos poucos se esfriam os calores de novidade, mas será possível que em tudo exista uma rotina? Não há como fugir desse estado maquinário da vida? Pra mim parece um tanto complicado e, se fosse responder com base em todas as experiências de minha curta estadia terrena, diria que não é possível esconder-se das torturantes rodas da engrenagem que a vida nos propõe.
Porém quem sabe o que guardarão os anos e os tantos outros primeiros dias que estão por vir? Algum deles ainda poderá roubar a chama dessas vontades para mantê-la acessa mesmo nas mais frias noites de tempestade. Ou talvez esteja em nós saber criar e recriar nossas realidades para alimentar o sabor dos dias que passam tão compassados e assim fazê-los tropeçar – saindo de suas marcadas marchas e revelando o novo em se viver.
Deveras exigente querer uma vida sem rotinas. Muitos as enxergam como uma dádiva e não poderiam viver sem ser regidos por elas. Gostam do prazer do obvio, daquilo que é familiar e se repete – como um rato em sua gaiola girando sem parar em sua roda que não o leva a lugar nenhum. Sei que as rotinas não querem dizer estagnação, mas no meu íntimo sinto minguar uma chama ao imaginar ter de seguir tal caminho.
O gozo das primeiras experiências tem sempre o sabor requintado da descoberta. Não que seja sempre bom, entretanto – não importa se bom ou ruim – a marca deixada é única. Nunca mais poderemos ter outra primeira experiência de algo que já experimentamos. Triste? Talvez, mas essa é mais uma dessas peças que a vida trama pra que busquemos desfrutar todos seus sabores com vontade. Pois, muito provavelmente não voltaremos a senti-los.