terça-feira, 26 de junho de 2012

Revolta inglória


Enquanto as pessoas continuarem a se fazer perguntas das quais já sabem as respostas o mundo continuará o mesmo. Questionar é saudável até certo ponto, passado esse limiar se torna um simples e chato murmúrio de palavras.
A internet permitiu que as pessoas “gritem” por aí qualquer tipo de palavras de ordem vazias e sem consistência. De que adianta que em sua – segura e pacata – rede social você seja visto como um ativista, visionário e humanitário se em sua vida real não passa de um hipócrita consentido?
Sei que esse se parecerá com mais um desses gritos ocos que se vê a todo momento por aí, pode até ser. Mas não vivo de apologias baratas e prontas, não me transvisto por trás de definições pra parecer um cara mais bacana e politizado. Sou o que sou sem depender de bandeiras e outras modas.
“Mas reclamar dessas pessoas também está na moda”, questionará alguém. E não é que é verdade? Então – no frigir dos ovos – somos todos um bando de babacas sem ação que simplesmente veem o mundo girar a sua volta. Ou, você realmente acredita que a foto intimidadora com alguma frase de efeito vai mesmo mudar as coisas?
Nossos governantes estão pouco se lixando – alias: ficando cada vez mais ricos – enquanto você faz suas revoltas “internéticas”. Pra eles é uma grande vantagem que você tenha esse espaço virtual pra gritar e espernear feito criança, por que essa é a sua válvula de escape. Por que enquanto você esbraveja toda sua raiva revolucionária num mundo virtual se torna cada vez mais manso e manipulável no lado de cá da realidade.
É engraçado como a internet – mesmo sendo uma ferramenta de informação – conseguiu calar milhares de pessoas. Ao contrário dos árabes, que realmente souberam como fazer essa ferramenta trabalhar a favor de sua causa (fazendo que toda a sua indignação fosse canalizada para ações concretas no mundo real), nós simplesmente pararmos no virtual sempre nos sentindo impotentes de mais pra organizar algo que vá além.
Quantas vezes você ouviu alguém dizer: “mas, eu sou um só... não vou mudar nada sozinho” e é verdade! Mas, onde estão os milhares que compartilharam a mesma mensagenzinha ideológica que você naquela rede social? São todos indivíduos que sozinhos não vão mudar nada, mas já pararam pra pensar no que aconteceria se parassem de simplesmente postar essas coisas e começassem – de verdade – a investir em ações palpáveis?
“Podemos terminar presos e mortos pela policia, isso sim!”. Toda ação tem um preço, mesmo sabendo das consequências milhares de árabes se juntaram pra mudar seus respectivos países. Talvez nós, brasileiros, sejamos mesmo uns grandes falastrões. E o “verás que um filho seu não foge a luta” não passa de uma grande bobagem que se canta a cada quatro anos.
Esse é apenas mais um grito surdo e estúpido no meio de tantos outros. Apenas mais um torpe apelo vazio e inútil, é a minha válvula de escape diante do que vejo. Há aqui apenas uma pequena diferença: já há muito me conformei e através desse espaço não busco mudanças. Simplesmente jogo, também, ao vento minhas palavras de revolta inglória. 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Seu sorriso

Me perco de seu sorriso, já não tenho seu abrigo. O brilho dos olhos se vai.... e ao longe embaçadas lembranças se embaralham em minha mente. Pra onde você foi? Em que lugar me perdi? O tempo passa brando, não há mais ansiedades. Não há datas para se marcar e contar, tudo que foi ficando aos pedaços pelo caminho.
Numa sala, sozinho, me pego pensando no que poderia ser, não dói. E se não existe dor é por que tudo mais que poderia haver se esvaziou. Pessoas podem se tornar ocas e é bem isso que o tempo nos faz, nos torna uma casca daquilo que já fomos um dia. Uma imagem que representa algo que foi se perdendo.
Perdas e perdas, será que nada se acrescenta? É possível, entretanto é tão mais fácil sentir a falta do que não é mais. Muito mais simples lamentar o que não temos, não vemos, não sentimos. Porém chega uma hora em que não há mais pelo que lamentar, só restam cinzas misturadas a lágrimas. Matéria prima na criação – recriação – de nós mesmos.
A vida não ensina de forma direta, quase nunca. E certos e errados podem ser muito difíceis de enxergar. Os olhos – sempre tão cheios de juízos – mostram somente aquilo que querem ver e é o tempo, paciente algoz, quem aponta outros lugares.
O mundo não é “bonitinho”, as coisas não são feitas pra se encaixar. A vida não é um quebra cabeça, nem algo pra se consertar. Viver é moldar-se, mudar-se, deixar ir, permitir, vetar. Não existem desígnios superiores, o que existe é apenas um oceano de historias que buscam o conforto dos portos seguros e tranqüilos.
Olhar para trás pode ser doce ou cruel, é preciso saber como fazê-lo. Salvaguardar o que foi bom, por mais que seus desdobramentos não vieram a ser o que buscávamos. Saber saborear as pequenas porções de prazer da vida pra poder transpassar os amargos períodos.
 Hoje ainda olho pra trás, não sei até quando o farei. Me permito alguns momentos assim, mesmo sabendo seus riscos. O presente é sempre tão mais difícil de se viver, não é mesmo? As inquietações de passado e futuro disputam deslealmente, são forças por de mais poderosas e querem nosso tempo todo pra elas.
Do futuro não me ocupo tanto, sempre me pareceu um tanto obscuro. Quase um monstro que espera que eu passe para me afrontar desprevenido e desarmado. Dele busco me afastar o quanto posso, não acho que seja o certo... é apenas minha natureza. Mas agora não é hora de falarmos do que está por vir, pelo menos não por hoje.
Hoje refletem nos meus olhos o que é passado, o que se foi. Amanhã será outro dia, com novos sabores e agonias. Agora só quero o sabor do antigo, do perdido. E assim vou seguir no meu canto – nessa sala escura – vendo as sombras das coisas que tive um dia.

domingo, 3 de junho de 2012