O tempo, talvez, tenha me tornado
um velho em corpo jovem – no que diz respeito há alguns assuntos, pelo menos. A
impaciência e a falta de vontade com aquilo que não me é relevante faz-me
lembrar de um velho rabugento e infeliz. Como poderia ter alcançado tal ponto?
Não ostento orgulho algum por
minha aparente velhice precoce, muito pelo contrário. Sinto que com ela vão se
escorrendo as areias do tempo de se aproveitar algo que pareço não entender. Poderia
ser meu engano de julgamento tamanho ao ponto de me privar, por teimosia senil,
de desfrutar do que me é apresentado? Por vezes temo por isso...
Na maioria acredito que, na
realidade, se trata de um desvio de conduta de minha parte. Não o entenda como
uma negativa – se bem talvez o seja – e sim como uma dessas grandes variações
bizarras das quais a natureza propõe como possibilidade de vida. As linhas da
vida não são iguais, percorrem infinitas trilhas que se bifurcam a cada
momento.
Entre esquerdas e direitas do meu
caminho foi então traçando meu próprio traço. Fui desenhando no espaço tudo
aquilo que viria a ser “eu”. Se a imagem que se forma me causa embaraço devia
eu ter tomado um pouco mais de cuidado ao tomar essa ou aquela curva.
Quiçá esteja demasiadamente
preocupado com questões irrelevantes. Talvez esse meu velho de hora ou outra
não seja tão real, ao ponto que posso estar apadrinhando uma imagem que não me
pertence. Afinal, nunca saberemos como os outros nos enxergam. A única certeza
é de que nunca poderão entender nossas certezas, dúvidas, manias etc. – nós
somos os guardiões de nossas histórias.
Daí vem novo questionamento: vale
mesmo querer entender se estou certo ou errado? Mais parece que não, mesmo
porque na vida as coisas teimam em serem menos assertivas do que sim/não. Nem
me importa mais, pelo menos pelo tempo que perdure essa nova latência. Às vezes
o verdadeiro problema está em questionar de mais o que tem de ser vivido.