quinta-feira, 7 de junho de 2012

Seu sorriso

Me perco de seu sorriso, já não tenho seu abrigo. O brilho dos olhos se vai.... e ao longe embaçadas lembranças se embaralham em minha mente. Pra onde você foi? Em que lugar me perdi? O tempo passa brando, não há mais ansiedades. Não há datas para se marcar e contar, tudo que foi ficando aos pedaços pelo caminho.
Numa sala, sozinho, me pego pensando no que poderia ser, não dói. E se não existe dor é por que tudo mais que poderia haver se esvaziou. Pessoas podem se tornar ocas e é bem isso que o tempo nos faz, nos torna uma casca daquilo que já fomos um dia. Uma imagem que representa algo que foi se perdendo.
Perdas e perdas, será que nada se acrescenta? É possível, entretanto é tão mais fácil sentir a falta do que não é mais. Muito mais simples lamentar o que não temos, não vemos, não sentimos. Porém chega uma hora em que não há mais pelo que lamentar, só restam cinzas misturadas a lágrimas. Matéria prima na criação – recriação – de nós mesmos.
A vida não ensina de forma direta, quase nunca. E certos e errados podem ser muito difíceis de enxergar. Os olhos – sempre tão cheios de juízos – mostram somente aquilo que querem ver e é o tempo, paciente algoz, quem aponta outros lugares.
O mundo não é “bonitinho”, as coisas não são feitas pra se encaixar. A vida não é um quebra cabeça, nem algo pra se consertar. Viver é moldar-se, mudar-se, deixar ir, permitir, vetar. Não existem desígnios superiores, o que existe é apenas um oceano de historias que buscam o conforto dos portos seguros e tranqüilos.
Olhar para trás pode ser doce ou cruel, é preciso saber como fazê-lo. Salvaguardar o que foi bom, por mais que seus desdobramentos não vieram a ser o que buscávamos. Saber saborear as pequenas porções de prazer da vida pra poder transpassar os amargos períodos.
 Hoje ainda olho pra trás, não sei até quando o farei. Me permito alguns momentos assim, mesmo sabendo seus riscos. O presente é sempre tão mais difícil de se viver, não é mesmo? As inquietações de passado e futuro disputam deslealmente, são forças por de mais poderosas e querem nosso tempo todo pra elas.
Do futuro não me ocupo tanto, sempre me pareceu um tanto obscuro. Quase um monstro que espera que eu passe para me afrontar desprevenido e desarmado. Dele busco me afastar o quanto posso, não acho que seja o certo... é apenas minha natureza. Mas agora não é hora de falarmos do que está por vir, pelo menos não por hoje.
Hoje refletem nos meus olhos o que é passado, o que se foi. Amanhã será outro dia, com novos sabores e agonias. Agora só quero o sabor do antigo, do perdido. E assim vou seguir no meu canto – nessa sala escura – vendo as sombras das coisas que tive um dia.

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