domingo, 23 de dezembro de 2012

Pensamento do dia (XVIII)

Algumas vezes nossas mentes correm tanto que não dão tempo para que as palavras se expressem com algum sentido.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Um templo da infância


       Templos são lugares sagrados nos quais a paz invade nossas mentes e corpos, elevando o espirito. Contudo, não todos os templos são exatamente religiosos e assim foi aquele lugar pra mim. Uma capela simples sem requintes de ostentação luxuosa, com altar aberto à beira do lago que o separa do lugar de onde a maior parte dos fieis assistem as missas nas segundas-feiras. Seus jardins – espalhados por todos os lados – dão a impressão de que aquele cenário não pertence à cidade, entretanto fica teimosamente em sua região central.
       É sim um lugar religioso para a maioria, porém nos dias em que não havia celebrações se tornava algo mais: se tornava tudo quanto uma criança possa imaginar. Nesse lugar estão gravadas várias passagens de minha infância, das brincadeiras com os primos e das tantas bagunças que podíamos inventar.
      Ali estávamos livres para recriar o cenário, inventar histórias e personagens. E o fazíamos com maestria: policiais e bandidos; exploradores de selvas; mergulhadores de grutas; nada era impossível. Bastava uma boa ideia para que o cenário se metamorfoseasse diante de nossos olhos e nos colocando dentro de nosso mundo particular.
     Por vezes tínhamos alguns probleminhas... Não é sempre que os adultos entendem a avidez com a qual as crianças abraçam suas histórias e alguns puxões de orelha eram aplicados quando algumas plantas, velas etc. sofriam pequenos “acidentes” ao longo do dia – nada que vinte minutos de descanso não resolvesse.
       Assim crescemos e, mesmo nos dias de celebração, arrumávamos algum artifício para poder tornar a passagem do tempo mais divertida. Quando era tempo de festa de São Geraldo (santo ao qual é dedicada a capela) nos digladiávamos para poder cumprir funções que julgávamos mais divertidas. E nos ocupávamos com um pouco de tudo: aos mais velhos eram dadas tarefas de maior importância e assim por escala – basicamente etária – nos ocupávamos todos em ajudar nos preparativos e durante toda a festa.
       Aqueles afazeres nada mais eram que uma boa desculpa para brincarmos de ser “gente grande”, achando que eram funções da mais alta importância e somente nós poderíamos cumprir aqueles papeis. Para nós o tempo passava diferente e tudo fazia parte de mais uma história de faz-de-conta.
      O tempo foi passando, cada um de nós foi mudando e o mesmo aconteceu com nosso lugar especial. Fomos moldados pela passagem do tempo, entretanto ainda olho pra capela e consigo recriar toda a magia que a infância me brindou. E sinto falta daquele tempo, uma saudade boa, do tipo que faz a gente se alegrar por ter podido viver tudo o que passou.

(Imagem "emprestada" de minha prima Fabiola Lemos)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Personagem


–Você está bem?
–O quê...? Ah, não é nada.
–Não é o que parece.
–Lembra-se do personagem que te mostrei há algumas semanas?
–O que a vida era uma confusão só?
–Esse mesmo (risadas). Pois então, eu o perdi...
–Como assim? Não sabe onde estão seus rascunhos, podem ter ficado naquela estante desarrumada. Vivo te falando pra se livrar de um pouco de todo aquele...
–Não, não é isso. Os manuscritos estão aqui, mas ele... perdi sua história. Já não posso conta-la, o papel já não quer aceitar meus escritos.
–Que tal dar a ele algumas soluções, você fez da vida dele um estorvo tão grande.
–Esse é o problema: nada do que eu tento parece natural. Ele é tão propenso a bagunçar-se que não consigo mais achar uma forma de coloca-lo em ordem.
–Talvez você o tenha perdido, mas dê um tempo a ele. Pode ser que ele decida voltar.
–Pode ser...

domingo, 2 de dezembro de 2012

De volta

          Enfim férias... pelo menos das coisas sérias, ou talvez nem delas também. O importante é que agora vou ter mais tempo "ocioso". E com isso espero tirar as teias de aranha que apareceram nesse lugar, sacudir a poeira e continuar a brincar com as palavras.
          De volta ao meu lar virtual!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

No lombo do jegue


Viajar de avião é prático, quanto a isso não tenho muitas dúvidas. Contudo, quando se escolhe ir pelo ar se abdica de alguns confortos. Em nosso país, todos os meios de transporte aparentemente possuem desvantagens um pouco maiores, assim sendo, quando se trata de nossa estrutura aeroportuária as coisas não poderiam ser diferentes.
Feriado prolongado é uma boa desculpa pra fugir de onde quer que você esteja e ir para longe. Se pudesse viajaria sempre, mas nem tudo que se quer se pode – uma pena. E é por isso mesmo que aproveitei a oportunidade que tive e sumir do mapa, mesmo que por uns poucos dias.
E como aproveitei...? Uma viagem em família, o que mais isso quer dizer? Que não planejei nada. Aí sim temos um pequeno incômodo, ou nem diria incômodo... está mais pra uma adaptação a condições que não estão no meu controle – ou seja, chatice minha mesmo. 
Viajar em família é muito bom, porém trás desvantagens. Por exemplo, nessa viajem elas foram data e companhia aérea escolhida... A data, por mais que seja um feriado, muito próxima ao fim do semestre que já está me tirando o sono faz tempo, mas OK.
Duro mesmo foi o segundo fator. Limito-me a dizer que assim que entrei na aeronave ouvi uma passageira chamando a empresa “carinhosamente” de web-jegue – talvez seja mesmo verdade que toda brincadeira tem um fundo de verdade.
Como já disse inicialmente, viajar de avião significa se abdicar de alguns confortos pra ganhar tempo. Quanto ao tempo não posso reclamar, saímos e chegamos no horário marcado. Agora quando ao conforto... Eles realmente não estavam brincando quando pensaram na divisão interna do avião: as poltronas tinham um espaçamento tão diminuto entre si que não havia opção de se reclinar o banco, ou mesmo esticar as pernas. O banco era tão fino que dava pra sentir a revista colocada no bolsão nas minhas costas, se era acolchoado...? Prefiro nem comentar.
Senti-me em um pau-de-arara voador, ideia que tentei de todas as formas ignorar pensando que ao chegar tudo valeria a pena. Entretanto, o tempo foi passando e minha coluna, pernas, pés e até mesmo braços encontravam-se sem lugar naquele micro espaço “reservado” para mim.
Pra que você tenha uma ideia um pouco mais palpável te conto que tenho um e setenta e poucos de altura e sessenta e seis quilogramas, o que isso quer dizer? Que sou baixo e magro – e ainda assim me encontrava muito desconfortável. O que dizer de alguém mais alto que eu? Não teria condições de colocar as pernas pra dentro do espaço do assento, digo sem exageros! E uma pessoa acima do peso? Teria, facilmente, de ocupar dois assentos.
Não estou fazendo piada, a coisa é que estava muito ruim mesmo. Mas como tudo que está ruim pode sempre ficar ainda mais divertido... Eis que na metade de nosso percurso uma senhora puxou, deus lá sabe de onde, uma caixinha de som – daquelas que se compra pra conectar um pendrive ou cartão de memória, sabe? E então, o inevitável, colocou em volume considerável todo o seu “bom-gosto” musical para ecoar pelos corredores da aeronave.
Comecei a rir instantaneamente, como era possível uma cena dessas? Mais parecia que estava em um ônibus no centro da cidade, que é um território costumeiro desse tipo de prática. Não preciso dizer que não foi o único a estranhar coisa toda, mas acho que de tão inusitada a situação ninguém se atreveu a dizer nada.
Viajar de avião ainda é a forma mais prática de se poupar tempo. Contudo, temo que algumas companhias aéreas estejam cada vez menos interessadas em oferecer um serviço com o mínimo de conforto. Mas está tudo lindo e maravilhoso, não é mesmo? Afinal de contas esse é o país que irá sediar a copa.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Mais um adeus

Era mais uma dessas conversas que se evita a todo custo. O problema era que, dessa vez, fui eu quem não pude evitar o assunto. E quase sem pensar disparei a pergunta como um raio: "O que você quer de mim?". Ela me olhou e do fundo de seus olhos castanhos, podia ver que a pergunta lhe causou um arrepio quase sobrenatural. "Eu não sei, não me pergunte isso. Você me complica".

Uma resposta tão satisfatória quanto um tapa na cara, então sou eu quem complica as coisas. Me remexi na cama onde estávamos, buscava uma forma de ver seu rosto e ainda assim manter uma certa distância de segurança. Segurança, falso sentimento de controle ante a situação que me encontrava. "Quero saber para agir da forma mais correta". Ela agora evita meu olhar, mantinha seus olhos voltados para o teto e sua boca remexia inquietantemente. Houve um silêncio tão grande que quase pude ouvir seus pensamentos, ela ao pressentir meu intento atirou de volta minha pergunta: "E você, o que quer?"

É claro, já sabia que isso iria acontecer. Não que já tivesse uma resposta pronta, mas aquele momento era tão inevitável quanto todo esse diálogo. Inspirei profundamente e em seguida deixei o ar sair de meus pulmões suavemente. Havia duas possibilidades de resposta, na primeira eu diria tudo o que ela queria ouvir e na segunda diria com honestidade o que eu penso - minha pausa se prolongou um pouco mais. Todo homem sabe que para as mulheres pouco importa o que nós pensamos, desde que elas escutem aquilo que estão esperando.

Tomei minha decisão, elegi não agrada-la. "O que quero é estar com você... mas não posso te prometer uma relação séria, não funciono assim. O que podemos é estar juntos para que, quem sabe um dia, possamos ter algo mais sério. Você tem seu namorado e eu não vou te pedir que deixe-o. Não sou desse tipo de homem. É você quem tem de decidir o que é mais conveniente". Enquanto minhas palavras rasgavam seus ouvidos seu rosto foi empalidecendo. E o, quase, entusiasmo que ela exibia quando me fez a pergunta sumiu por completo.

Estava feito o estrago? Não sei, mas não podia parar de falar. Então continuei a falar sem medir as palavras que saiam de minha boca: "Não te peço que abandone sua relação com ele. Essa relação é a coisa mais segura que você tem agora, é uma segurança que não tenho condições de te oferecer em curto prazo". Não pense que eu buscava propositalmente vestir uma máscara de monstro. A verdade é que eu queria força-la a confrontar a realidade sem ser hipócrita, ou utilizar das armar que os amantes sempre fazem uso.

"Eu sei que isso não está certo, mas você está tornando tudo mais difícil". Ela finalmente reagiu e, como era de se esperar, não tinha ficado nem um pouco contente com tudo o que tinha acabado de ouvir. A culpa era em parte minha, porém buscava dizer a verdade e até aquele momento estava evitando qualquer tipo de clichê piegas para convence-la, ou manipular sua decisão.

Apesar de meu desespero interno meu olhar mantinha uma calma e intensidade quase bíblica. Queria abraça-la, mas contive o impulso. Respirei calma e pausadamente por uns instantes, o silêncio pesava entre nós dois e atuava como o terceiro integrante daquela desgostosa conversa.

"Você me trata como se estivéssemos namorando, mas você já tem um namorado. Imagine se ele te encontra assim, do jeito que estamos agora". Ela empalideceu ainda mais, era quase possível sentir o nó no estômago que essa ideia lhe causava. Continuei: "É justamente isso que eu quero dizer, viu como você reagiu?"

Agora ela começou a mexer os lábios: "Eu... eu não posso abandona-lo por você, não vale a pena. Você não vale a pena". Plausível, eu não havia dito nada para encoraja-la, era sua vez de expor o que passava em sua mente. "Ainda mais faltando tão pouco para que você se vá. E enquanto estiver fora eu não vou ficar sozinha". Agora eu quase ri, mas contive tal reação. Não seria nada cortês demonstrar que eu já sabia disso, simplesmente disse: "Tudo bem, por isso não proponho nada mais sério. Sei que vamos ficar um tempo longe".

Após isso, ela rapidamente deixou a cama e arrumou-se para sair. "Não posso troca-lo e, mesmo assim,  eu gosto tanto de estar junto de você... Passamos momentos tão divertidos juntos". Tremo e espero que ela não tenha notado. Levanto-me e vamos os dois em direção a sala, o silêncio nos acompanha até lá. Quis sentar no sofá, mas ela fazia menção de que queria ir. Fomos então até a porta, antes de abri-la disse: "Se essa é sua decisão acho melhor você repensar suas atitudes comigo". E com uma cara de espanto ela me olhou no fundo dos olhos dizendo: "Mas você corresponde...", essas palavras escaparam da sua boca como se fossem um pensamento fugitivo.

Quase deixei as chaves caírem da minha mão, tamanha dor que me provocou aquela pequena e destrutiva ideia. Palavras que ecoaram absurdamente dentro da minha cabeça, o que deu a impressão de não haver nada lá dentro. É claro que eu correspondia, o que era de se esperar? Aqueles segundos pareciam minutos e fui eu quem ficou sem palavras.

Abri a porta sem dizer nada. Ela me deu um beijo no rosto, já podia sentir que nada ficaria bem depois disso. Era melhor assim, ela mantem o cara que diz gostar e que provavelmente gosta dela. E eu mantenho minha solidão, sem me sentir um sacana por ter dormido com a mulher de outro cara.

Ela deu uns passos e chamou o elevador, ainda me olhava a espera de que eu a chamasse de volta. Não o fiz, uma decisão tem de ser tomada e mantida. Nesse caso a escolha foi dela e eu não iria forçar sua renúncia. Meu olhar mantinha uma fria calma, parte por achar que era errado tudo que havia passado, outra por não querer deixar transparecer nada mais que isso.

A porta se abre ela entra, mas coloca a cabeça pra fora. Essas são suas últimas palavras: "Eu pensei que você se importava..." A porta se fecha, meu coração tenta parar, inútil, isso não mudaria nada. "Espero ter feito a coisa certa", só o silêncio me acompanha agora e ele pesa.

Um conto que estava guardado na gaveta há mais de um ano... a fantasia sempre se misturará com a realidade ao ponto de que uma não poderá ser separada da outra. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

sábado, 13 de outubro de 2012

O meu é pior!


  Seres humanos somos criaturas divertidíssimas, a cada dia que passa me dou conta de uma nova (ou não tão nova) mania que possuímos. Desde sempre vivemos a base de comparações, isso não é novidade pra ninguém – certo?
  Desde criança comparamos brinquedos, dizendo que os nossos são melhores do que o do outro (mesmo que não concordemos de verdade com o fato) e entramos em uma infrutífera e vasta argumentação a cerca do “por que” de tal fato. Os anos passam e paramos de comparar brinquedos – pelo menos a maioria de nós –, porém começamos a nos ater a outras coisas como base de comparação.
  Uma dessas comparações bizarras (e que tão pouco gostamos de perder) é o nível de “desgraça” que nos encontramos. Não me lembro de onde li/ouvi isso pela primeira vez, mas o fato é: mesmo quando nos comparamos aos outros com relação aos nossos problemas não aceitamos tê-los diminuídos pela fala de alguém que diz estar em pior situação do que a nossa.
  A coisa vai começando a ficar mais estranha, não é mesmo? Mas, lembre-se: não há limite pra inventividade (esquisitice) humana. Chegamos, então, ao lugar onde queria me centrar, outro tipo de comparação que existe – essa sendo a mais ilógica das que observei até agora – é a que se faz entre infortúnios alheios. Isso mesmo, desgraça alheia também entra no jogo.
  Ao ser humano não basta quantificar e supervalorizar o próprio estado de infelicidade. Isso é pouco, bom mesmo é coloca-lo na mesa com mais uma massa de desventuras para poder quantifica-las e compara-las. Ora, somos mesmo muito esdrúxulos.
  É como um jogo de “super trunfo” – edição especial tragédias – no qual comparamos itens de sofrimento e desgosto alheio. Chega a ser cômico, o ser humano mesmo em face de algo negativo tem de encontrar maneiras de se colocar em maior importância do que o outro.
  Ainda não entendo de que vale esse tipo de comparação, como essas tragédias atuam de forma a trazer satisfação ao serem proferidas e comparadas. A cada dia que passa percebo o quanto me interesso pelos mistérios da psique humana, vontade de desvendar no outro o que não compreendo em mim mesmo.

domingo, 7 de outubro de 2012

Mania – tomando nota de mim mesmo


Não sou nenhum desenhista, mas às vezes brinco de rabiscar as coisas – tal qual brinco com as palavras. E quando o faço tenho grande preferência pelos traços humanos: mãos, olhos e rostos principalmente. Alguns longe do real, outros em pífia tentativa de imitar o que vejo.
A parte divertida de minha inabilidade é a falta de simetria entre um lado e outro de um rosto que tenho traçar. Fico tão frustrado com o resultado desastroso de meus intentos que, na maioria das vezes, me limito a desenhar apenas metade de uma face.
Meu perfeccionismo impede que aceite minha imperícia. Imagino agora se há alguma literatura que explique minha loucura. É bem provável que sim e, também provável, que não seja algo tão incomum.
Tenho curiosidade pelos mistérios da mente, tudo aquilo que fala de forma indireta. Os detalhes mínimos que revelam naturezas aparentemente desconexas dos seres. O que pode querer dizer essa minha mania? Que traço – reprimível ou não – ela revela sobre minha persona?
Cada um de nós é um conjunto bizarro de manias que escondemos de nós mesmos. Faz anos que brinco com esses desenhos, porém somente agora me pus a pensar sobre o que poderia querer dizer esse costume. O que leva a pensar: o que mais faço de estranho...?
Talvez seja melhor ir mesmo aos poucos, assim não nos assustemos tanto. Uma vez que, notar costumes incomuns nos outros já é digno de estranheza, o que se poderá dizer quando percebemos algo tão singular em nós mesmos. 

sábado, 6 de outubro de 2012

“Coisas invisíveis”


Esse é o nome da peça que assisti essa sexta-feira e não há outro título mais apropriado para o turbilhão de sentimentos que me foi propiciado por ela.
Recebi o convite do Anderson Aníbal para assistir o espetáculo e fui até o Palácio das Artes sem saber o que me esperava e eis que encontro no palco um pedaço de mim. A cada fala ao longo da peça, senti que passagens de minha própria vida eram rasgadas e jogadas na minha cara. Vi verdades inquietantes sendo remexidas dentro de meu interior e passei a assistir os acontecimentos que se desdobravam a minha frente quase como se fossem parte de minha memoria.
Peço perdão pela subjetividade e falta de clareza ao falar sobre o espetáculo. Acredito que seria um sacrilégio tentar reproduzir qualquer pedaço dele – ou mesmo resumi-lo – para criar uma imagem mais concreta. E sabe por quê? É simples: não há nada de concreto na experiência que ele me propiciou.
A verdade é que durante todo seu percurso fui levado a lugares muito intimistas, que dizem respeito a visão particular de mundo que a vida me brindou. Assim, senti-me como expectador de vários sentimentos já vivenciados, colocados ali sobre a lupa de um olhar sensível.
Confesso – sem nenhuma vergonha – ter deixado várias lágrimas se desprenderem de meus olhos a cada fala, gesto e silêncio. O último atua como um personagem da trama, as pausas e, principalmente, tudo aquilo que cala fazem parte da reconstrução das vivencias humanas tão bem dissecadas pela peça.
Senti-me como a peça me propôs: feliz e triste, tudo ao mesmo tempo. Saí com a alma renovada, sentindo-me um pouco mais vivo do que antes de adentrar o teatro. Agradeço mais uma vez ao Anderson pelo convite e por me dar um presente tão grande que foi a peça como um todo.
A quem estiver em Belo Horizonte nesse, e/ou no próximo fim de semana, faço um convite: assistam a “Coisas invisíveis” e sinta algo que as palavras não podem explicar.


sábado, 1 de setembro de 2012

O mundo do leviatã


Gosto de dizer que sou um questionador. Essa é a minha autodefinição preferida quando tenho a oportunidade de responder – com honestidade – a pergunta: “Em que você acredita?”. E porque teria de mentir quando sou questionado sobre o assunto? Uma vez que essa é minha resposta honesta existe uma (ou mesmo várias) que não.
Minto sim, mas o faço por uma questão de autopreservação – ou mesmo pra evitar discussões maiores. Nem todo mundo consegue escutar isso de uma forma tranquila e acham um absurdo minha visão “deturpada” de mundo, sendo estritamente necessário que se acredite em alguma coisa.
Peço perdão aqui duas vezes: a primeira por não explicitar o tema até agora, que é mesmo a religião. Aos que não gostem peço (desesperadamente) que deixem de ler esse texto agora mesmo, sob pena de perderem qualquer simpatia que exista pela minha figura. O segundo é aos meus amigos que – abertamente – odeiam que eu fale sobre isso. Lamento, mas vai sempre acontecer.
Tente entender uma coisa, respeito de forma muito profunda a todos os que acreditam em qualquer que seja a religião (excetuando os casos nos quais essa crença causa algum dano ele e/ou outras pessoas). Entretanto acho difícil nutrir a mesma simpatia por qualquer que seja a linha de pensamento religioso. Não gosto das coisas prontas, tão pouco aceito respostas engessadas. Gosto do questionar, do ir a fundo do meu jeito. Com isso, se torna um tanto complicado que me enquadre em qualquer religião.
Também me incomoda a ideia de que o ser humano só é bom, só é capaz de realizar o bem, se estiver ameaçado por forças maiores a seu entendimento. O grande leviatã ainda vive e se molda de acordo com a crença e os costumes vigentes. Seriamos tão primitivos que se não fosse pela promessa de um castigo/paraíso eterno nos voltaríamos inteiramente à barbárie? Somos criaturas tão irracionais ao ponto de que o errado só passa a fazer sentido por causa de uma punição “divina”?! Não existe o bem pelo bem...?
O mundo é regido pelo divino, pelo medo. A bestialidade humana é somente suprimida por se acreditar na vigilância onisciente de um ser maior. Não peço que compactuem com meu pensamento, mas por acaso alguém entende a minha angústia? Dia após dia não sucumbimos ao caos devido a essa película psicológica extremamente frágil.
Talvez a parte mais chata de minha “descrença” seja o fato de que tenho de mentir o tempo todo sobre ela para não ferir os sentimentos das pessoas que não aceitam minha posição. Ao dizer o que penso ofendo, me dizem estar desrespeitando a quem crê, mas e EU!? Quem vai me respeitar? Já cheguei ao cúmulo de sentir vergonha de ser assim – por vezes ainda sinto – e por ter de evitar o tema, ou fazer ainda pior: fingir acreditar em algo que pra mim não faz o mínimo sentido só pra não aborrecer a alguém.
A única coisa que eu queria era poder nutrir meu pensamento sem me sentir mal por isso. Queria não ser censurado por ser como sou e receber de volta o mesmo respeito que ofereço aos outros gratuitamente. Gostaria que pessoas não vissem como “demônios” quem não se vincula a nenhuma religião. E, principalmente, que entendam que é possível sim ser uma boa pessoa independentemente disso.

domingo, 26 de agosto de 2012

Apresentando-me ao posto

Na chegada ao humilde posto de saúde Amador Cândido de Camargos fica evidente a natureza simples e precária do atendimento que se presta a comunidade em seu entorno. Explicita como nosso país possui um modelo de saúde invejável no papel que, entretanto, ainda não conseguiu alcançar o mesmo patamar de excelência quando posto em prática – uma pena.
Desde nossa chegada recebemos pedidos de desculpas mil por tais precárias condições, mas seria realmente a nós a quem esses pedidos de desculpas deveriam estar dirigidos? Como estudantes de medicina estamos aqui para enfrentar a dura realidade que permeia o cotidiano de trabalho e nos poupar disso somente criaria a falsa impressão de que “tudo vai bem, obrigado”.
Pois então, a quem deveríamos nos desculpar? Ora, não é óbvio? A verdade é que quem sofre com essa situação está bem a nossa frente: as famílias que recorrem a esse serviço e dependem dele para manter o bem estar de seus membros de forma individual e conjunta. Como esperar eficiência no atendimento se para marcar uma consulta o doente tem de acordar em plena madrugada para pleitear uma senha para tal, sempre muito escassas, e se não a consegue tem de se conformar, voltar para casa e esperar uma nova tentativa.
Prosseguimos em nossa visita e fomos apresentados as agentes de saúde que deveremos acompanhar até o fim do semestre para que conheçamos algumas das famílias que participam do PSF (Programa Saúde da Família). Cada um de nós, com sua respectiva agente de saúde, foi incumbido em caminhar por determinada porção do raio de atuação do posto. Ali começou o verdadeiro confronto com a realidade.
Numa mesma rua pude ver como as casas se misturavam. Havia sim casas que ostentavam adornos um pouco mais elaborados e se mostravam bem pintadas e cuidadas, ao lado delas sempre era visível a quebra do padrão por construções verdadeiramente simples e que se pareciam doentes quando comparadas as primeiras. Era quase como se as construções evidenciassem a realidade que encerravam por dentro de suas paredes e, aos poucos, iam se tornando um reflexo do que guardavam.
Não vou aterme aqui em cada uma das casas que visitei. Porém, posso dizer que a maior necessidade de todas que vi nesse dia foi a carência. Não entenda isso como falta de dinheiro ou coisa parecida – não que ela também não exista –, me refiro a necessidade intrínseca do ser humano em sentir-se acolhido e amparado. Em ter uma motivação a seguir em frente, sentir-se como parte da comunidade e importante dentro de sua construção.
Qualquer um que trabalhe em ações sociais sabe bem a que me refiro e uma frase que escutei naquele dia traduz isso da maneira mais simples que poderia pensar. Uma senhora me disse: “Venham mais vezes aqui em casa, gosto mais das conversas do que dos remédios”, aí está traduzida a verdadeira necessidade humana da qual me referia no paragrafo anterior. Essa é a essência desse tipo de trabalho o contato direto com o paciente para garantir que não só sua saúde física e mental esteja satisfeita, mas também sua saúde social. Afinal de contas toda conversa é também um remédio.
A visão que temos não chega a cobrir nem a ponta do iceberg, a falta de estrutura dos postos afeta diretamente o bom trabalho do PSF. Ainda faltam profissionais em ambas as áreas, ainda falta uma melhor preparação de quem lida com áreas de risco, ainda falta ao governo prestar uma melhor assistência a esses profissionais para que possam atuar de maneira mais efetiva...
E se citasse aqui as tantas coisas que faltam resultaria em um texto infinito e esse não é meu objetivo. Quero simplesmente expressar meu olhar quando cheguei pela primeira vez ao posto de saúde, quero ter registrado minha visão para que no futuro eu não me esqueça, nem aceite que se torne comum, tudo o que eu vivi.

domingo, 19 de agosto de 2012

domingo, 22 de julho de 2012

Livre

Mais uma cidade: rostos, histórias, alegrias e tristezas novas. Sempre novos sonhos e vivencias. Uma alma desgarrada, talvez seja isso, ainda busca seu recanto de descanso. O mundo é tão grande e pequeno – gosto de brincar com sua natureza dual.
Estou por começar nova jornada e o mais divertido disso nem são as expectativas e sim voar por entre nuvens de incerteza tentando desvendar qual será a próxima grande jornada. É estranho não se sentir ligado a nenhum lugar, tudo passa de uma forma opaca e com menos vida do que deveria. É quase como se eu ainda não tivesse encontrado a minha própria história, o quadro no qual vou me encaixar.
Já me disseram que o meu desapego é mais uma qualidade do que um defeito que eu sou mais adaptável ás situações do que a maioria das pessoas costuma ser. Porém essa mesma pessoa me disse pra tomar muito cuidado com isso: uma alma que não encontra seu lugar vai vagar sem saber quando e onde deve parar.
Quando penso nessas palavras sinto um frio na espinha, e se eu não souber quando parar? E se o mundo me enfeitiçar ao ponto de querer recorrer todos seus mistérios? Onde ficam minhas raízes? E meus laços?
Tudo é um assombro vertiginoso ao passar por esses pontos, mas ao mesmo tempo não me sinto menos impelido em realizar minhas vontades. Rodar as voltas de tudo quanto possa, buscando conhecer sempre mais e mais. Encontrar-me e perder-me pelos caminhos e trilhas que apareçam pela minha frente.
Agregar rostos, histórias, sabedorias e vidas. Cair no mundo feito um cigano sem destino. Talvez não seja uma vida tão desgraçada, a não ser quando confronto essa possibilidade de futuro com outra que também almejo.
Como constituir uma família quando não se sente preso a nenhum lugar? Bom, talvez seja essa a única inquietude real quanto a minha grande vontade de ganhar o mundo.
Quem sabe desse jeito eu possa repousar em algum canto tranquilo e finalmente me sentir preso a algo mais palpável. E assim ver o fim dessa vontade de querer conhecer sempre mais, de viver cada dia em uma história diferente.
Findar tranquilamente sentindo que estou onde devo estar. Sentir que recorrer o mundo já não é meu fado. Nesse dia não importa o lugar, desde que a inquietação se vá, estarei livre para ficar.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Pensamento do dia (XII)

                Para que uma mente produza continuamente é preciso que ela seja alimentada para tal. De nada valem os pensamentos vazios, por isso é muito certo que se não temos com o que acrescentar é melhor simplesmente calar.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Onde estará meu Graal?


Um dia a gente se cansa de esperar por “um amor pro resto da vida”. Aquela massa arrebatadora de sentimento que vai nos nocautear em um único assalto, quanta ingenuidade. A vida teima em ser mais dura, ou talvez nós sejamos exigentes de mais e estamos sempre insatisfeitos – correndo eternamente a procura de uma ilusão que nunca existirá.
Prometi a mim mesmo que daria um tempo em escrever sobre o amor. Como alguém que não ama pode falar sobre ele? Bem, talvez seja essa a resposta: estou procurando – desesperadamente – entende-lo, defini-lo e controla-lo. Pois, quem sabe assim encontrarei uma forma de cultiva-lo.
Brincadeira! Só estou de sacanagem com vocês, sei que tais coisas são impossíveis. Desisti de tentar enquadrar os sentimentos em definições engessadas, sua complexidade é tão vasta que acaba por ruir meus intentos repetidamente. E aqui fico: com mais uma teoria furada.
Porém, talvez essa seja a grande graça da vida – a grande piada de deus. Fazer-nos correr em círculos tentando entender tudo o que se passa ao nosso redor, pra que quando fracassemos olhemos pros céus em busca de respostas. “Por quê?”; “Como pode?”; “Mas como?”.
A curiosidade humana é inigualável – um pouco mais pra alguns e menos pra outros, acontece – e através dela fomos capazes de desconstruir e reconstruir o mundo, sempre em busca de respostas. Maldito sejam o dom e a maldição humana do querer mais: conhecimento, poder, controle, prazer...
E o amor? Como nos faz correr grandes distancias. Viu como fui tão longe para voltar até aqui? É, deve ser mesmo verdade que ele é tão forte quanto dizem. Ainda assim, sinto-me tentado em pensar que talvez ele seja como o Santo Graal, um mito. E sua busca desesperada o motivador de épicas batalhas.
Como toda boa lenda, sempre haverá quem acredita ter encontrado a verdadeira taça dentre a milhões de cópias enganosas. Se embebedará de seu conteúdo sendo enfeitiçado por seus encantos. Até o dia em que ela se rompa – libertando-o de seu torpor – para que enfim amaldiçoe o dia no qual foi enganado por sua própria ambição.
Se a curiosidade humana é um dom nossas fracas memórias são outro. Dessa forma sempre poderemos esquecer de velhos espinhos e voltar a eterna busca pelo verdadeiro, ingênuo, ilusório, mitológico: Amor.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012

Revolta inglória


Enquanto as pessoas continuarem a se fazer perguntas das quais já sabem as respostas o mundo continuará o mesmo. Questionar é saudável até certo ponto, passado esse limiar se torna um simples e chato murmúrio de palavras.
A internet permitiu que as pessoas “gritem” por aí qualquer tipo de palavras de ordem vazias e sem consistência. De que adianta que em sua – segura e pacata – rede social você seja visto como um ativista, visionário e humanitário se em sua vida real não passa de um hipócrita consentido?
Sei que esse se parecerá com mais um desses gritos ocos que se vê a todo momento por aí, pode até ser. Mas não vivo de apologias baratas e prontas, não me transvisto por trás de definições pra parecer um cara mais bacana e politizado. Sou o que sou sem depender de bandeiras e outras modas.
“Mas reclamar dessas pessoas também está na moda”, questionará alguém. E não é que é verdade? Então – no frigir dos ovos – somos todos um bando de babacas sem ação que simplesmente veem o mundo girar a sua volta. Ou, você realmente acredita que a foto intimidadora com alguma frase de efeito vai mesmo mudar as coisas?
Nossos governantes estão pouco se lixando – alias: ficando cada vez mais ricos – enquanto você faz suas revoltas “internéticas”. Pra eles é uma grande vantagem que você tenha esse espaço virtual pra gritar e espernear feito criança, por que essa é a sua válvula de escape. Por que enquanto você esbraveja toda sua raiva revolucionária num mundo virtual se torna cada vez mais manso e manipulável no lado de cá da realidade.
É engraçado como a internet – mesmo sendo uma ferramenta de informação – conseguiu calar milhares de pessoas. Ao contrário dos árabes, que realmente souberam como fazer essa ferramenta trabalhar a favor de sua causa (fazendo que toda a sua indignação fosse canalizada para ações concretas no mundo real), nós simplesmente pararmos no virtual sempre nos sentindo impotentes de mais pra organizar algo que vá além.
Quantas vezes você ouviu alguém dizer: “mas, eu sou um só... não vou mudar nada sozinho” e é verdade! Mas, onde estão os milhares que compartilharam a mesma mensagenzinha ideológica que você naquela rede social? São todos indivíduos que sozinhos não vão mudar nada, mas já pararam pra pensar no que aconteceria se parassem de simplesmente postar essas coisas e começassem – de verdade – a investir em ações palpáveis?
“Podemos terminar presos e mortos pela policia, isso sim!”. Toda ação tem um preço, mesmo sabendo das consequências milhares de árabes se juntaram pra mudar seus respectivos países. Talvez nós, brasileiros, sejamos mesmo uns grandes falastrões. E o “verás que um filho seu não foge a luta” não passa de uma grande bobagem que se canta a cada quatro anos.
Esse é apenas mais um grito surdo e estúpido no meio de tantos outros. Apenas mais um torpe apelo vazio e inútil, é a minha válvula de escape diante do que vejo. Há aqui apenas uma pequena diferença: já há muito me conformei e através desse espaço não busco mudanças. Simplesmente jogo, também, ao vento minhas palavras de revolta inglória. 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Seu sorriso

Me perco de seu sorriso, já não tenho seu abrigo. O brilho dos olhos se vai.... e ao longe embaçadas lembranças se embaralham em minha mente. Pra onde você foi? Em que lugar me perdi? O tempo passa brando, não há mais ansiedades. Não há datas para se marcar e contar, tudo que foi ficando aos pedaços pelo caminho.
Numa sala, sozinho, me pego pensando no que poderia ser, não dói. E se não existe dor é por que tudo mais que poderia haver se esvaziou. Pessoas podem se tornar ocas e é bem isso que o tempo nos faz, nos torna uma casca daquilo que já fomos um dia. Uma imagem que representa algo que foi se perdendo.
Perdas e perdas, será que nada se acrescenta? É possível, entretanto é tão mais fácil sentir a falta do que não é mais. Muito mais simples lamentar o que não temos, não vemos, não sentimos. Porém chega uma hora em que não há mais pelo que lamentar, só restam cinzas misturadas a lágrimas. Matéria prima na criação – recriação – de nós mesmos.
A vida não ensina de forma direta, quase nunca. E certos e errados podem ser muito difíceis de enxergar. Os olhos – sempre tão cheios de juízos – mostram somente aquilo que querem ver e é o tempo, paciente algoz, quem aponta outros lugares.
O mundo não é “bonitinho”, as coisas não são feitas pra se encaixar. A vida não é um quebra cabeça, nem algo pra se consertar. Viver é moldar-se, mudar-se, deixar ir, permitir, vetar. Não existem desígnios superiores, o que existe é apenas um oceano de historias que buscam o conforto dos portos seguros e tranqüilos.
Olhar para trás pode ser doce ou cruel, é preciso saber como fazê-lo. Salvaguardar o que foi bom, por mais que seus desdobramentos não vieram a ser o que buscávamos. Saber saborear as pequenas porções de prazer da vida pra poder transpassar os amargos períodos.
 Hoje ainda olho pra trás, não sei até quando o farei. Me permito alguns momentos assim, mesmo sabendo seus riscos. O presente é sempre tão mais difícil de se viver, não é mesmo? As inquietações de passado e futuro disputam deslealmente, são forças por de mais poderosas e querem nosso tempo todo pra elas.
Do futuro não me ocupo tanto, sempre me pareceu um tanto obscuro. Quase um monstro que espera que eu passe para me afrontar desprevenido e desarmado. Dele busco me afastar o quanto posso, não acho que seja o certo... é apenas minha natureza. Mas agora não é hora de falarmos do que está por vir, pelo menos não por hoje.
Hoje refletem nos meus olhos o que é passado, o que se foi. Amanhã será outro dia, com novos sabores e agonias. Agora só quero o sabor do antigo, do perdido. E assim vou seguir no meu canto – nessa sala escura – vendo as sombras das coisas que tive um dia.

domingo, 3 de junho de 2012

sábado, 26 de maio de 2012

Palavreando


Sanidade. É uma dessas palavras pelas quais sou apaixonado, soa tão bem. Como se fosse poesia por si só, tem todo o significado guardado dentro de si. É tudo aquilo que não tenho e, talvez, nem queira mesmo ter.
Palavras são assim: mágicas, cada uma a sua maneira e sabor. Coisa sinestésica mesmo: com cheiros, cores e tato. Algumas com tanto tato que chegam a doer, ou vai dizer que estou errado? Não importa, nem todo mundo sabe senti-las. Nem todos gostam de apreciar as pequenas belezas dessas miudezas, coisas de ínfimo sentir. É preciso atenção, cuidado e carinho – e as pessoas se esqueceram como se faz isso.
Não se pensa pra nada, é tudo tão automático quanto possa ser. Menos o sentir, por isso mesmo é tão fortemente suprimido. “De que me vale sentir, se com ele o mundo começa a doer?”, talvez seja isso... A falta de cuidado dos outros com tudo torna o sentir muito penoso e muito mais útil se ignorado veementemente.
Voltemos a pobre sanidade, tão desgastada por esse maltrapilho “escritor” de araque. Que te faz sentir? Parece que falta algo, pra mim falta – sempre faltará. São, saldável, sóbrio, vigoroso e (meu favorito) equilibrado... Acho graça disso tudo, quem será que definiu tais diretrizes? E moldou o que é bom/ruim, normal/anormal, melhor/pior. Tão ténue são as linhas, tão frágeis às fronteiras. Por algum acaso o próprio senhor dessas ideias poderia, também, bailar de um lado a outro nessa ciranda.
Torpe e determinista, palavras duras e pesadas como um metal. Batem na cara da gente feito uma bofetada moral. Por isso mesmo são importantes, querem o além do obvio – aquilo que foge a simples vista do banal. Incomodam e incomodar-se é fundamental para movimentar as coisas, os acomodados não movem nada.
Fosse o mundo simplista não haveria tantas palavras para tentar explica-lo, nem tantos idiomas e variações linguísticas para se moldar as suas diversas formas. Seria tudo muito reto e chato, seriamos fáceis e dóceis. Não haveria – sequer – evolução, pois nada demandaria mudanças. Morreríamos de tédio esquecidos pelas próprias mentes.

domingo, 20 de maio de 2012

Um chato e pronto

Ter consciência dos seus defeitos não te torna um ser iluminado, te torna um chato consciente.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Promessa


– Perto. Mais perto.
– Aqui?
– Não, um pouco mais.
– Mais do que isso não tem jeito.
– Mas... você prometeu.
– Eu sei, é que...
– Então entra logo no meu coração!

domingo, 6 de maio de 2012

Da janela

Olhei pela janela, lá no quintal, e quão atordoante foi minha visão. Quanta pena senti da pobre realidade, estava ali: com os pés fincados no chão olhando pro céu. No céu os sonhos voavam alto, leves e livres – feito pássaros– aproveitando a brisa daquela tarde de sol. Enquanto minha amiga realidade os observava, das sombras, sentindo todo o peso em ser real.

sábado, 21 de abril de 2012

Busca


Pobre diabo, levado desde cedo
Aos austeros recantos do sepulcro
Do dito salvador dos justos

A mente libertaria é domada
Nas doutrinas torna a dor
E a obediência cega

Nega a grandeza da vida
Entrega se ao post mortem
Agoniza dia após dia
Espera recompensa divina

Entre incertezas, por vezes, vacila
Punindo-se ao retomar ao torpor
Prefere a vida sofrida
A queimar no fogo do horror

Se será acolhido entre os justos,
Ou terá o eterno sono sem sonhos
Só o tempo dirá, com um susto
Ao findar em seu leito de morte

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Do lado errado


Do lado da linha que separa certo e errado encontrei uma trilha
Desse lugar sinuoso e obtuso tracei toda uma vida
E partindo daquele ponto busquei coisas findas
Para não cair nas ciladas de minhas próprias manias

Do lado de lá do horizonte que separa bonito e feio vi uma ilha
Com milhões de espelhos que refletiam tudo que se imagina
A multidão de sombras apagadas buscavam suas miraculosas visões
Porém eram apenas sombras, mais e mais a se alimentar de ilusões

Do lado da fronteira dos sonhos e pesadelos me perdi num pântano
Cujas trevas e árvores engalfinhadas me guiaram por seus cantos
Lá torturantes imagens: passado, presente, futuro brincavam de roda
Suas canções arderam meus ouvidos e sapecaram toda minh’alma

Ao fim da jornada pus-me a pensar sobre tudo que havia visto
Seja pelas dores ou dissabores trouxe no peito um conflito
Afinal se mesmo aquelas linhas por vezes se faziam bailarinas,
Quem poderia dizer realmente em qual dos lados estaria?

domingo, 8 de abril de 2012

Por um abraço


               O problema do ser humano é que sempre haverá um dia em que ele acordará sozinho louco por um abraço, ou qualquer mostra de carinho. E justamente nesse dia estará abandonado a seus pensamentos, que torturantes aranharam a sua sanidade pouco-a-pouco.
               É aquele dia em que olhamos pro mundo como se ele quisesse cair sobre nós de uma vez só. É o dia em que todas as nossas preocupações resolvem acordar – juntas – como uma armadilha violenta. O dia no qual uma simples folha de papel parece ter o peso do mundo.
               E a única coisa que poderia nos salvar é um simples abraço, talvez não tão simples assim... Um abraço de se perder no tempo, um de carinho verdadeiro cheio de gratuidade. A vida é dura de mais pra ser vivida sozinha, mesmo que não sejamos incompletos somos seres sociais que dependem uns dos outros. E tão pouco somos perfeitos pra não admitir que alguém nos ampare.
               Talvez a busca inquieta que temos por encontrar alguém se resuma a esses momentos de fragilidade. Queremos alguém que esteja lá pra ser mais do que apenas alguém que caminha por nossas vidas, mais do que apenas um rosto conhecido que um dia cruzou nosso caminho. É preciso descobrir no outro toda a força que nos falta e estabelecer com ele uma aliança de segurança e conforto.
               Uma via de mão dupla, sem sobreposição de poderes ou vontades. Apenas dois que, pela mutua vontade e sabor, decidiram alicerçar as lacunas de seus vazios. Lançar-se em uma relação é uma forma de buscar o equilíbrio para a vida, mais do que isso é uma forma de aprender mais sobre si mesmo.
               Descobrir os próprios defeitos e virtudes, caminhar aprendendo a dividir. Dividir tudo: prazeres, dores, esperanças, desenganos, sonhos e medos. E ser para o outro o porto seguro que buscamos para nós mesmos, essa é a troca. Ser para o outro tudo aquilo que queremos que ele seja para nós, aprendendo a respeitar limites e temperamentos.
               Seres humanos são complexos e exigem tempo e paciência para serem compreendidos. Não se sinta melhor do que ninguém, você é tão humano quanto qualquer outro, tão cheio de defeitos e manias intrigantes quanto aqueles que você aponta. Tão difícil e temperamental quanto aqueles dos quais você reclama continuamente.
               Assim mesmo haverá alguém com quem você se sentirá seguro. Alguém que aprenderá a conviver com todas as suas manias chatas e loucuras. Enquanto você descobrirá o quanto as manias loucas dessa pessoa te fazem rir, tornando-a ainda mais especial. Aí então você poderá acordar num dia em que tudo parece dar errado e saber que terá o conforto do abraço que irá afugentar todos os demônios e curar suas agonias.

domingo, 1 de abril de 2012

Primeiros dias

Primeiros dias são sempre primeiros dias. Recheados de ansiedade com uma pitada de medo pelo desconhecido. Uma nova rotina, antes de fazer-se rotina, é toda novidade e vida. Até que caia no desencanto maquinado do “todo dia”.
Rostos novos, lugares novos, ares novos... O que buscamos dessas fases? Sacudir nossas sanidades em busca de outro olhar sobre o mundo, até o dia que descobrimos que não importa o quanto busquemos lutar alguma rotina vai sempre nos ganhar.
E mesmo assim lá estava eu, naquela sala de aula tão cheia de desconhecidos com seus semblantes que variavam de perdidos a uma contida empolgação. Eu mesmo tinha tantas expectativas que – provavelmente – tinha no rosto estampado toda a inocência que se pode encontrar em um primeiro dia de aula.
À medida que as semanas caminham aos poucos se esfriam os calores de novidade, mas será possível que em tudo exista uma rotina? Não há como fugir desse estado maquinário da vida? Pra mim parece um tanto complicado e, se fosse responder com base em todas as experiências de minha curta estadia terrena, diria que não é possível esconder-se das torturantes rodas da engrenagem que a vida nos propõe.
Porém quem sabe o que guardarão os anos e os tantos outros primeiros dias que estão por vir? Algum deles ainda poderá roubar a chama dessas vontades para mantê-la acessa mesmo nas mais frias noites de tempestade. Ou talvez esteja em nós saber criar e recriar nossas realidades para alimentar o sabor dos dias que passam tão compassados e assim fazê-los tropeçar – saindo de suas marcadas marchas e revelando o novo em se viver.
Deveras exigente querer uma vida sem rotinas. Muitos as enxergam como uma dádiva e não poderiam viver sem ser regidos por elas. Gostam do prazer do obvio, daquilo que é familiar e se repete – como um rato em sua gaiola girando sem parar em sua roda que não o leva a lugar nenhum. Sei que as rotinas não querem dizer estagnação, mas no meu íntimo sinto minguar uma chama ao imaginar ter de seguir tal caminho.
O gozo das primeiras experiências tem sempre o sabor requintado da descoberta. Não que seja sempre bom, entretanto – não importa se bom ou ruim – a marca deixada é única. Nunca mais poderemos ter outra primeira experiência de algo que já experimentamos. Triste? Talvez, mas essa é mais uma dessas peças que a vida trama pra que busquemos desfrutar todos seus sabores com vontade. Pois, muito provavelmente não voltaremos a senti-los.

sábado, 24 de março de 2012

Traço

Riscos no papel
Riscos na vida

Tudo são riscos
Outros rabiscos

Eu não me arrisco
A riscar por aqui

Uma vida em branco
Um papel em branco

O branco que é puro
O puro se crê branco

Na mente espanto
Algum solavanco
E deu um branco...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Melhor da vida

A nossa memoria é inacreditavelmente divertida. Não exatamente a memoria... Mas como nossos estados de espírito interferem na percepção das coisas que vivenciamos. Por acaso você já pensou “esse é o momento mais feliz da minha vida”? Muito provavelmente mais de uma vez – normal.
É uma tendência muito forte pensar que o que estamos vivenciando no presente seja a coisa mais intensa que já sentimos até então, ou mesmo a mais intensa que jamais sentiremos em toda vida. No fundo não acho que seja algo ruim, é uma forma de desfrutar ao máximo aquilo que o presente nos dá.
A questão é: nem sempre o que estamos vivendo é algo bom. E o gosto de ser a emoção mais forte de toda a vida persiste nos casos negativos também, o que é perigoso. Uma dor muito grande pode parecer algo que nunca irá passar e a angústia provocada por ela pode criar cicatrizes profundas.
Somos humanos, as perdas deveriam ser algo natural. Porém, é muito difícil aceitar que algo não está como gostaríamos que estivesse. É doloroso, frustrante e não entendemos o “porque” de sermos vítimas de tamanho sofrimento.
Cada um de nós é o protagonista da própria vida e acredita ser o merecedor de algo a mais. Acredita ser alguém diferente dos demais, um merecedor profundo de algo que ninguém nunca poderá provar. Pena a realidade não ser assim tão boa, podemos sim encontrar nossos prêmios tão importantes para nós e que não fazem o menor sentido aos olhos de outrem. Em todo caso isso não quer dizer que sejamos mais merecedores de nada.
Voltando aos estados de espírito... Quando nós sentimos bem/completos e, por algum motivo, esse sentimento é repentinamente partido é como se fossemos atirados a um poço sem fundo. “Os dias nunca mais terão as cores de outrora...” até que nos deparamos com algo tão bom quanto aquilo que tínhamos anteriormente e – como por mágica – nos esquecemos de toda a angústia do passado. Pior, nos esquecemos daquele sentimento bom (“o maior de todos”) que se perdeu no passado.
Somos um bocado parecidos com os bichos, talvez mais do que muitos gostariam de ser. Vivemos o presente, vivemos aquilo que possuímos. Há aquelas também que se enganam para que uma dor – ou um amor – se eternize... Masoquismo? Uma forma de autopunição eterna, sem permitir a possibilidade de viver coisas novas.
A mente pode ser maliciosa e é necessário atenção para que não sejamos pegos por essas armadilhas (tão danadas) que nos preparamos. Faz parte do viver enfrentar situações boas e ruins - elas irão se alternar em ritmos loucos durante toda a vida. Isso é muito bom, uma vez que só aprendemos a dar valor às coisas depois de enfrentar situações desconfortáveis e torturantes.
O melhor de todos um dia virá e passará por nós, assim como o pior também o fará. A vida se apresenta em todos os seus sabores – e dessabores – deixando os dias menos monótonos e previsíveis. Aprendamos, então, a não nos esquecer de todos os bons momentos e a extrair a sabedoria dos maus. Para vivermos melhor com nossos próprios demônios e fazer da vida uma aprazível viajem de contentamento. 

domingo, 11 de março de 2012

Contra tempo

Se acredita estar certo
Já começou tudo errado
Nada é assim, perto
Pois, futuro gosta mesmo
É de brincar de passado

quinta-feira, 8 de março de 2012

Frias noites

A eterna busca de corpos desencontrados
Baile desritmado de solidões infindas
Laços apertados estreitos, estilhaçados laços...
De um alvorecer pra curar a rebeldia
Novo dia logo trará o açoite da noite
Quando cai entre os dedos nova musa da sorte
Voltarão a brindar por amores sem doce
Desunidas almas que buscarão nos corpos nus
O alívio que jaz em ávido deleite 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Tem valor?

A vida cada vez mais corrida
Social sinônimo de virtual
Mundo que gira em favor do poder
A arte se tornou superlativa, supérflua
A cultura simples objeto de mostruário
Nas esquinas intelectuais vazios
Na cabeça o saudosismo
Não mais questionar
Nunca mais romper
Mundo de velharias
Em nova caricatura
Diferindo na pintura

Não é ruim, não choca, nem grita
Não dói na vista, cabeça, boca do estômago...
Quem tenta navega por mares de indiferença
O bom está: na internet; na televisão;
Mastigado, rápido, fácil
Comida instantânea pra mente
Metem na cara dura
Fazendo uma “nova cultura”
Sem conteúdo, bem chula

A inercia beirando a loucura
Mata a quem seus frutos rejeitar
Reina o fascínio ligeiro
Brilhos no espelho
Os martírios sem proveito
Sempre o fácil, o obvio
Adormeça o refletir
Deixe morto o confrontar
Ignore o questionar
Ponha a todos pra dormir

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Aquela música

Estavam abraçados na sala do apartamento dela. O rádio ligado começou a tocar uma gostosa canção de MPB, ele então de forma carinhosa e repentina disse:
– Essa música me faz pensar em você...
– Sério? – ela diz com uma cara bonitinha.
– Sério mesmo – responde ele feliz da vida.
E então ela muda completamente de fisionomia e diz: – Mas essa música é tão velha, quantas mulheres antes de mim ela já te lembrou? – Ele recebe a pergunta como um golpe na cabeça, fica totalmente desconcertado e quase cai pro lado.
– Como é que é? Eu te falo que a música me faz pensar em você e você, ao invés de se sentir feliz, me ataca do nada?
– Tenho todo o direito, vai saber pra quantas mulheres antes de mim você já disse isso.
– Mas... Meu amor... Eu nunca faria uma coisa dessas.
– Negação... tsc, tsc... É pior do que eu pensava.
O rosto dela assumiu a feição de uma investigadora perspicaz, já ele parecia mais perdido do que um bandido pego em flagrante. Engoliu seco, precisava pensar em alguma coisa.
– Não acredito que você possa duvidar assim de mim. Quer saber, essa música era especial pra mim, nem vou escutar ela do mesmo jeito agora. Fez tão pouco caso comigo que a música até perdeu a graça. – E fez uma cara de cachorro abandonado olhando imediatamente pro lado, feito um menino birrento. – As mulheres vivem reclamando que os homens não sabem ser românticos, mas olha só: a gente tenta fazer um agrado e acaba tomando pedrada na cabeça.
Pronto, estava instaurado o clima de tensão. Ela dividida entre aceitar a reclamação, ou manter firmemente sua acusação. “O que fazer?”, pensava. Internamente sentia que havia algo de errado, porém as últimas palavras dele foram de cortar o coração. E se ele só queria agrada-la e tudo não passou de um mal entendido? Afinal, ela também pode se enganar. Sabia que era um pouco "ciumenta de mais".
Ele, percebendo a dúvida em sua parceira, manteve a cara de coitado e evitou falar qualquer coisa a mais, poderia acabar estragando o que tinha conseguido até ali. Foi ela quem quebrou o gelo:
– Desculpa, vai. Peguei pesado com você. Você só queria ser legal e eu te julgando, me perdoa? – E pulou sobre ele fazendo carinho em seu rosto tentando arrancar um sorriso dele. Ele manteve a pose por alguns segundos até abraça-la e dar-lhe um beijo na boca, em sinal de paz.
– Tudo bem amor, eu até esqueci. Deixa isso de lado e fica aqui comigo. – Essa realmente tinha sido por pouco, já não sabia o que poderia fazer no caso dela insistir com a discussão. Teria de admitir que tinha errado e que aquela, na verdade, era a música da sua ex. Isso não seria nada bom.
– Só mais uma coisa amor... – disse ela, com a voz mais meiga do mundo.
– Pode falar, linda.
– A próxima vez que você pensar em outra do meu lado eu arranco seu pinto. – E lhe beijou com carinho.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Problemão

– Cara, o quê que foi? Qual é o problema?
– Te falar, o problema é mulher.
– Quem isso, meu amigo. Mulher não é problema, mulher é... um problemão.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pensamento do dia (VII)

Outro dia escutei que as pessoas tem a tendência natural de se sentirem como o ator principal de um teatro invisível que as rodeia. Depois disso percebi por que algumas pessoas se julgam tão indispensáveis para o mundo...

domingo, 29 de janeiro de 2012

Cachaça – Conversas de boteco

               O amor é feito cachaça... daquelas da melhor qualidade. Essas porcarias baratas que existem por aí são como as paixões: chegam, nos deixam malucos e no dia seguinte só resta a ressaca. Uma bela de uma ressaca, sim senhor, com direito a boca seca e muita dor de cabeça – por vezes umas dores morais e algum vexame pra guardar.
               O amor é diferente... a gente saboreia, sabe? É por que, muito provavelmente, nunca mais sentiremos aquele sabor outra vez. Nunca é igual, nunca vai ser igual. Assim como uma boa cachaça – dessas que custam todo um soldo – o amor é caro. Devíamos aprecia-lo aos poucos, sentindo todos os seus sabores, isso é amar de verdade. Deixar o gosto impregnar o paladar sem pressa e a cada novo gole descobrir outro sabor.
               Não se engane, porém. Feito as paixões o amor também pode te ressaquear feio. E como pode... por isso a calma – nunca a sede – deve ser o seu controle. Digo mais: a ressaca de um amor é ainda mais dura, ela dói no fígado. No fundo do ser.
               O amor não foi feito pra se tomar em um gole só. Não, não, não... Ansiedade. É, é isso. O amor nos embriaga também, sabia? Nos deixa completamente preenchidos e loucos. Numa euforia sem igual, nem preciso dizer... Mas quando tomado com paciência conseguimos manter a sensação boa por muito mais tempo, quanto tempo possa durar uma vida.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pensamento do dia (VI)

           Um dia desses li, em algum lugar, que dar um conselho desobriga a pessoa que o dá de cumpri-lo. Desde então entendi por que sempre gostei de aconselhar quem me procura...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Matutice

          Escuta: é o baruiu do mundo lá fora, o som do silêncio d'outro lado da porta. Cá na roça até a lua faz ruído e o tempo escorre preguiçoso.
          Aqui se faz tudin no capricho. Deus deu ao hômi a capacidade de mudá as coisa pra fazê tudo do jeito devido. As plantação cá da terra florece sempre no seu tempo e o tempo do hômi se mistura ao tempo do tempo. Num é na pressa da ligeiresa impacênte da cidade, sempre na inqueta sem vontade d'esperá. Disaprendero o valô do tempo e do trabaio feito cum amô.
          Espia pro cê vê: todo quanto há tem luga certo de fica. Não é de ciência dos hômi humano quere muda as orde divina, nem julgá as obra du sinhô lá de cima. Aques que inventa de contraria as orde do divino acaba machucanu o que num divia e maculando a terra que nos dá a vida.
           E é assim, meu fio, que o seu véio leva a vida. Aprendenu todo us dia a respeita as vontade e os quereres de quem pode mais, que é um só e é Deus. Lembranu sempre da pequeneza que tem um hômi, vivenu sempre sem querê o mal a nenhuma criatura.
          Por isso te digo: cuidado com us caminho do mundo. Não perca da cabeça nu que é fácil, pois nu tortuoso e cumpricado du mudo se isconde a reconpensa de verdade. Viva reto e seja humirde pra que um dia possa ocê mesmo ensiná aos seus os valô quea vida te amostra.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Para uma flor


Momentos e pessoas são únicos. Às vezes somos transportados a momentos e sensações vividas por pequenos estímulos: um cheiro, uma música e até mesmo uma roupa podem ser os portais que nos levam a reviver um passado gostoso que ficou impresso na memoria.
       Escutando a Caetano Veloso sou transportado a Buenos Aires, improvável? Talvez... mas foi lá que tive a oportunidade de ir em um show dele. Mais precisamente a música Leãozinho me leva a um gostoso momento que vivi por lá. Foi durante o show mesmo, estava em companhia de uma autentica porteña: magra, alta, de cabelos castanhos e rosto de menina travessa.
Contava-lhe como aquela canção me fazia lembrar uma prima que carinhosamente canta seu refrão quando me vê. Ela mais que depressa, em um ato de singela ternura, arranhou a canção em meus ouvidos tentando ao máximo imitar as palavras que o cantor entoava em português – língua estranha a ela. Assim abrasados senti um carinho enorme por aquela figura que me fazia um agrado tão espontâneo e esforçoso.
Recém chegado a terras platinas fiquei hipnotizado por tamanha demonstração de afeto. Aquela foi uma das noites mais significativas de meu ano e meio no país. Jasmin, assim como a flor perfumada esse era o nome da mulher, com jeito de menina, com a qual me senti tão confortavelmente em casa naquela noite.
Infelizmente, como nos sonhos bons, foi também a ultima noite na qual me encontrei com ela. Acontece que mesmo quando encontramos pessoas que nos são certas o momento teima em ser indevido e assim foi para nós. Entretanto, guardo no peito com afeto a noite na qual Buenos Aires ficava no Brasil, a primeira noite que percebi que não importa onde é possível sentir-se em casa.


A todas as outras pessoas maravilhosas que conheci em minha estadia em Buenos Aires peço que não se sintam diminuídas. Esse relato é apenas uma dessas coisas que volta e martela a cabeça vez ou outra, mas não quer dizer ela seja maior do que tantos outros momentos magníficos que tive o prazer de desfrutar com todos que tive a sorte de conhecer.