sábado, 1 de setembro de 2012

O mundo do leviatã


Gosto de dizer que sou um questionador. Essa é a minha autodefinição preferida quando tenho a oportunidade de responder – com honestidade – a pergunta: “Em que você acredita?”. E porque teria de mentir quando sou questionado sobre o assunto? Uma vez que essa é minha resposta honesta existe uma (ou mesmo várias) que não.
Minto sim, mas o faço por uma questão de autopreservação – ou mesmo pra evitar discussões maiores. Nem todo mundo consegue escutar isso de uma forma tranquila e acham um absurdo minha visão “deturpada” de mundo, sendo estritamente necessário que se acredite em alguma coisa.
Peço perdão aqui duas vezes: a primeira por não explicitar o tema até agora, que é mesmo a religião. Aos que não gostem peço (desesperadamente) que deixem de ler esse texto agora mesmo, sob pena de perderem qualquer simpatia que exista pela minha figura. O segundo é aos meus amigos que – abertamente – odeiam que eu fale sobre isso. Lamento, mas vai sempre acontecer.
Tente entender uma coisa, respeito de forma muito profunda a todos os que acreditam em qualquer que seja a religião (excetuando os casos nos quais essa crença causa algum dano ele e/ou outras pessoas). Entretanto acho difícil nutrir a mesma simpatia por qualquer que seja a linha de pensamento religioso. Não gosto das coisas prontas, tão pouco aceito respostas engessadas. Gosto do questionar, do ir a fundo do meu jeito. Com isso, se torna um tanto complicado que me enquadre em qualquer religião.
Também me incomoda a ideia de que o ser humano só é bom, só é capaz de realizar o bem, se estiver ameaçado por forças maiores a seu entendimento. O grande leviatã ainda vive e se molda de acordo com a crença e os costumes vigentes. Seriamos tão primitivos que se não fosse pela promessa de um castigo/paraíso eterno nos voltaríamos inteiramente à barbárie? Somos criaturas tão irracionais ao ponto de que o errado só passa a fazer sentido por causa de uma punição “divina”?! Não existe o bem pelo bem...?
O mundo é regido pelo divino, pelo medo. A bestialidade humana é somente suprimida por se acreditar na vigilância onisciente de um ser maior. Não peço que compactuem com meu pensamento, mas por acaso alguém entende a minha angústia? Dia após dia não sucumbimos ao caos devido a essa película psicológica extremamente frágil.
Talvez a parte mais chata de minha “descrença” seja o fato de que tenho de mentir o tempo todo sobre ela para não ferir os sentimentos das pessoas que não aceitam minha posição. Ao dizer o que penso ofendo, me dizem estar desrespeitando a quem crê, mas e EU!? Quem vai me respeitar? Já cheguei ao cúmulo de sentir vergonha de ser assim – por vezes ainda sinto – e por ter de evitar o tema, ou fazer ainda pior: fingir acreditar em algo que pra mim não faz o mínimo sentido só pra não aborrecer a alguém.
A única coisa que eu queria era poder nutrir meu pensamento sem me sentir mal por isso. Queria não ser censurado por ser como sou e receber de volta o mesmo respeito que ofereço aos outros gratuitamente. Gostaria que pessoas não vissem como “demônios” quem não se vincula a nenhuma religião. E, principalmente, que entendam que é possível sim ser uma boa pessoa independentemente disso.

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