domingo, 1 de abril de 2012

Primeiros dias

Primeiros dias são sempre primeiros dias. Recheados de ansiedade com uma pitada de medo pelo desconhecido. Uma nova rotina, antes de fazer-se rotina, é toda novidade e vida. Até que caia no desencanto maquinado do “todo dia”.
Rostos novos, lugares novos, ares novos... O que buscamos dessas fases? Sacudir nossas sanidades em busca de outro olhar sobre o mundo, até o dia que descobrimos que não importa o quanto busquemos lutar alguma rotina vai sempre nos ganhar.
E mesmo assim lá estava eu, naquela sala de aula tão cheia de desconhecidos com seus semblantes que variavam de perdidos a uma contida empolgação. Eu mesmo tinha tantas expectativas que – provavelmente – tinha no rosto estampado toda a inocência que se pode encontrar em um primeiro dia de aula.
À medida que as semanas caminham aos poucos se esfriam os calores de novidade, mas será possível que em tudo exista uma rotina? Não há como fugir desse estado maquinário da vida? Pra mim parece um tanto complicado e, se fosse responder com base em todas as experiências de minha curta estadia terrena, diria que não é possível esconder-se das torturantes rodas da engrenagem que a vida nos propõe.
Porém quem sabe o que guardarão os anos e os tantos outros primeiros dias que estão por vir? Algum deles ainda poderá roubar a chama dessas vontades para mantê-la acessa mesmo nas mais frias noites de tempestade. Ou talvez esteja em nós saber criar e recriar nossas realidades para alimentar o sabor dos dias que passam tão compassados e assim fazê-los tropeçar – saindo de suas marcadas marchas e revelando o novo em se viver.
Deveras exigente querer uma vida sem rotinas. Muitos as enxergam como uma dádiva e não poderiam viver sem ser regidos por elas. Gostam do prazer do obvio, daquilo que é familiar e se repete – como um rato em sua gaiola girando sem parar em sua roda que não o leva a lugar nenhum. Sei que as rotinas não querem dizer estagnação, mas no meu íntimo sinto minguar uma chama ao imaginar ter de seguir tal caminho.
O gozo das primeiras experiências tem sempre o sabor requintado da descoberta. Não que seja sempre bom, entretanto – não importa se bom ou ruim – a marca deixada é única. Nunca mais poderemos ter outra primeira experiência de algo que já experimentamos. Triste? Talvez, mas essa é mais uma dessas peças que a vida trama pra que busquemos desfrutar todos seus sabores com vontade. Pois, muito provavelmente não voltaremos a senti-los.

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