domingo, 24 de fevereiro de 2013

Até que ponto mais humanos?


          Pra quem ainda não sabe, sou aluno do curso de medicina. Na minha faculdade foi adotado o método PBL (ou, ABP = Aprendizado Baseado em Problemas), por uma “sugestão” do MEC essa é a nova melhor forma de se ensinar a profissão. Não vou discorrer profundamente sobre a metodologia, não é minha intensão agora. Na verdade estou apreensivo com algo um pouco mais importante e que também era uma das intensões do MEC com a implementação desse método nas escolas médicas. Há uma crescente preocupação com a formação do caráter dos futuros profissionais da área e essa nova metodologia tem como estandarte um médico menos tecnicista e mais humano.
          Isso se faria pela conjunção de teoria e prática desde o primeiro período. Fazer com que os alunos tenham contato com as mazelas da sociedade e com suas necessidades primordiais. É uma tentativa de mostrar-lhes que o mundo não é um lugar fácil e que a realidade da profissão é menos glamorosa do que aquilo que se vê nas séries de televisão. Louvável, não é mesmo? Entretanto ainda me questiono o quão profundamente a nova metodologia está atingindo os estudantes.
          Ainda não está claro para mim se ela será realmente efetiva em amansar corações que já chegam a universidade preenchidos com preconceitos e pensamentos individualistas. Temo que os anos de colégio e cursinho já tenham se incumbido de fechar a maioria das pessoas a qualquer sensibilidade com o outro. Estão tão centradas em seus próprios mundinhos que não conseguem enxergar o outro como um ser tão complexo e rico quanto eles mesmos, não intendem a necessidade das pessoas em compartir suas histórias como forma de se livrar de seus demônios internos.
          A capacidade de ouvir tem sido muito discutida na faculdade, temo, porém, que a maioria se limite a ouvi-la e imediatamente esquece-la. É muito fácil dizer em uma mesa de discussão quais as características fundamentais para se tornar um bom profissional, difícil mesmo é transformar fala em ações. Falta coerência – como em todos os lugares –, há um profundo abismo entre o que se diz e o que se pratica, o que me deixa muito consternado.
          Sinto que, na realidade, a metodologia pouco influirá no caráter dos alunos. Talvez se as noções de ética e cidadania fossem parte do currículo das escolas primárias, alunos do ensino superior teriam maior facilidade em assimilar o que a vivencia lhes propõem. Assim, creio que apenas aqueles que já possuem alguma inclinação mais humanista poderão realmente usufruir do método, tornando-se ainda mais preocupados com a questão. Enquanto aqueles que vivem em seus mundos fechados passaram incólumes ao que esse método tem a lhes mostrar.

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