sábado, 27 de abril de 2013

Noite adentro


Estavam deitados, ele com o corpo esticado, inerte, mergulhado em seus pensamentos, quase a ponto de entregar-se aos braços de Morfeu. Enquanto ela repousava sobre seu peito e o abraçava levemente com os braços e pernas. O vento balançava manso a cortina de quarto do apartamento. A noite tinha a temperatura perfeita para se dormir assim, juntinho, não fazia calor e tão pouco frio cortante.
Após várias trocas de carinho carnal, estavam repousando em efêmero contentamento. A cama de casal parecia grande, tão confortável estavam ali entrelaçados. O tempo avançava moroso, apreciando a pintura sutil e sublime que se mostrava.
E então algo aconteceu. A mente dele começou a movimentar-se de forma lancinante, foi invadido por algo que nunca havia sentido até então. Aos poucos seu corpo foi dando sinais da movimentação interna, batimentos compassados foram gradualmente tornando-se mais rápidos e fortes, arrepios corriam sua pele por todos os lados, de sua fronte verteu água e sentia o tronco quente e suas mãos gélidas.
Ainda de olhos fechados, remexeu-se incômodo, não sabia como lidar com tudo aquilo. Sentia que estavam a ponto de explodir, sua garganta se fechava e os intestinos se contorciam desesperados. A respiração leve foi se tornando ofegante e pesada. Foi lentamente tomado por pânico, tentava compreender tudo aquilo. Mesclava-se por uma mistura incontrolável de medo e prazer, estava preenchido de sensações conflitantes e ao mesmo tempo vertiam a um mesmo lugar. 
Sentia todo seu corpo, mais do que isso: sentia o corpo da amada junto ao seu. Sentia seus cabelos que repousavam sobre seu peito, sentia sua respiração a acarinhar sua barriga. Sentia seus braços e pernas envolvendo-o com zelo e ternura. Sentia suas mamas junto de seu corpo, curtia todas suas curvas. Sensações do tato afloradas como, talvez, nunca tivesse se dado ao trabalho de sentir antes. Recusava-se a abrir os olhos, tinha medo de que tudo fosse uma miragem, de desfazer a imagem, de estragar tudo.
Ainda relutante os abriu, o quarto rodopiou a sua frente. Sentiu que não podia mais conter-se, a boca moveu-se sem que som fosse emitido dela. Mais um tremer, esse lhe subiu como um raio a espinha. Fechou forçosamente os olhos por alguns instantes, encheu os pulmões e disse:
–Eu... eu... – as palavras lhe engasgavam – é que eu te...
–Shhh... – foi delicadamente interrompido, enquanto ela pousava o dedo sobre sua boca e, sem sequer mover a cabeça, fazia com que ele se mantivesse em silêncio. Estava desperta, acompanha silenciosa toda a movimentação de seu companheiro. Ainda com a cabeça sobre o seu peito curtia o turbilhão ao seu lado. Inebriava-se a cada novo tremor e desconforto de seu amante, não podia deixa-lo estragar com palavras algo que só se pode sentir.

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