domingo, 19 de maio de 2013

Uma despedida inesperada


  – Tem muita coisa passando na minha cabeça nesse momento, sabe? – tentava me concentrar, falar calma e pausadamente – A verdade é que eu ainda não estou...

  E então o som seco do tapa interrompeu minhas palavras e foi seguido por palavras que não eram minhas:

   – Estou farta disso. Você é um fraco, a verdade é essa. Essa sua velha história não passa de uma boa desculpa para que você não assuma seus atos. Enquanto não mudar, verá pessoas que te querem bem irem embora, fartas como eu... – tentou disfarçar, mas sua garganta estava seca ao dizer isso e os olhos ameaçavam derramar torrentes de lágrimas raivosas. Continuou: – Pra mim já chega, não posso mais. Espero que um dia você mude e se permita ser feliz. Enquanto a mim, não me procure nunca.

  Foi a última vez que a vi. Depois disso ela se levantou raivosa e me deixou sozinho naquele bar, as pessoas me olhavam. Eu estava paralisado, ainda digerindo as tantas informações que foram atiradas na minha cara, no fim das contas o tapa foi o que menos doeu. Estaria ela certa? Quanta dúvida.

Nota: Esse fragmento faz parte parte de uma ideia maior, um projeto que ainda  realizarei - se tudo der certo -, mas queria compartilha-lo por agora. Talvez pela curiosidade desse pedaço de cena ser algo que poderia acontecer ao nosso lado a qualquer momento e, muito provavelmente, não notaríamos suas sutilezas. 
      A vida é cheia de desencontros, já dizia o "poetinha", e eles mexem com a gente de uma maneira muito particular. Às vezes conseguimos nos colocar no lugar do outro e sentir sua dor, enquanto na maior parte delas passamos incólumes ao que nos é apresentado. Essa diferença talvez esteja no quanto o que vemos se aproxima de nós, o quão dentro daquele cenário conseguimos nos enxergar.          
     Cada um de nós é um mundo complexo e cheio de coisas únicas que ninguém mais pode entender, entretanto quando vemos no outro um lampejo daquilo que sentimos é como se nós mesmos estivéssemos sendo afetados. A capacidade de nos colocar no lugar do outro é o que nos torna humanos, capazes de alegrias e sofrimentos que não são verdadeiramente nossos. Ou talvez sejam, mas estão escondidos por medo ou vergonha de sermos o que somos.

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