O mundo estava acabando, imensas bolas de fogo cainham do céu. Tudo era caos e medo, os cavaleiros do apocalipse dançavam espalhando horror por todos os lados. Mortos se levantavam de seus túmulos, pestes intermináveis consumiam os que ainda estavam de pé. A ira dos céus e inferno se espalhava num drinque dos diabos. Nada poderia resistir a tamanha fúria.
Lá estava um casal comum, em meio a tormenta. Num dos últimos bolsões de paz, que em breve sucumbira em meio a desgraça. O homem abraçava a sua mulher, tentando apoia-la e, ao mesmo tempo, sentir-se protegido seus momentos finais.
Ela chorava copiosamente, sussurrando palavras inaudíveis em negação. Ele tentava em vão manter uma postura de paz, por dentro a cabeça pesava entre medos e arrependimentos. Assim ficaram, esperando até que fossem alcançados pela tormenta sem ter para onde correr.
O local onde estavam, em breve, faria parte do teatro sombrio que se desenrolava por todos os lados. O tempo parecia correr como se estivesse confinado em um relógio de areia. Apesar da certeza de seu inglório fim não conseguiam aceitar a ideia de não existir mais em instantes. E por isso mesmo, tomada por súbito fôlego de coragem – e pela certeza de que não teria outra oportunidade – ela se manifestou:
O local onde estavam, em breve, faria parte do teatro sombrio que se desenrolava por todos os lados. O tempo parecia correr como se estivesse confinado em um relógio de areia. Apesar da certeza de seu inglório fim não conseguiam aceitar a ideia de não existir mais em instantes. E por isso mesmo, tomada por súbito fôlego de coragem – e pela certeza de que não teria outra oportunidade – ela se manifestou:
– Tenho algo entalado na garganta e não posso morrer com isso.
– Você não precisa dizer nada. – interrompeu-a com um sorriso.
– Não, você não entende. – seguiu ela ainda mais aflita.
– Eu também te amo... – disse em um tom amável, enquanto a abraçava ainda mais forte.
Sentiu-a desprender-se de seus braços, lançando-lhe um olhar austero que nunca havia feito antes. Seus olhos cuspiam verdades raivosas, sem mais esperar disse:
– O problema é justamente esse: eu não te amo. Na verdade, você é o ser mais desprezível que já conheci em toda minha vida.
E, sem que houvesse tempo para mais confrontações, foram alcançados pelo fim que lhes aguardava.
E, sem que houvesse tempo para mais confrontações, foram alcançados pelo fim que lhes aguardava.
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