sábado, 8 de junho de 2013

No fim

  O mundo estava acabando, imensas bolas de fogo cainham do céu. Tudo era caos e medo, os cavaleiros do apocalipse dançavam espalhando horror por todos os lados. Mortos se levantavam de seus túmulos, pestes intermináveis consumiam os que ainda estavam de pé. A ira dos céus e inferno se espalhava num drinque dos diabos. Nada poderia resistir a tamanha fúria.
  Lá estava um casal comum, em meio a tormenta. Num dos últimos bolsões de paz, que em breve sucumbira em meio a desgraça. O homem abraçava a sua mulher, tentando apoia-la e, ao mesmo tempo, sentir-se protegido seus momentos finais.
  Ela chorava copiosamente, sussurrando palavras inaudíveis em negação. Ele tentava em vão manter uma postura de paz, por dentro a cabeça pesava entre medos e arrependimentos. Assim ficaram, esperando até que fossem alcançados pela tormenta sem ter para onde correr.
      O local onde estavam, em breve, faria parte do teatro sombrio que se desenrolava por todos os lados. O tempo parecia correr como se estivesse confinado em um relógio de areia. Apesar da certeza de seu inglório fim não conseguiam aceitar a ideia de não existir mais em instantes. E por isso mesmo, tomada por súbito fôlego de coragem – e pela certeza de que não teria outra oportunidade – ela se manifestou:
  – Tenho algo entalado na garganta e não posso morrer com isso.
  – Você não precisa dizer nada. – interrompeu-a com um sorriso.
  – Não, você não entende. – seguiu ela ainda mais aflita.
  – Eu também te amo... – disse em um tom amável, enquanto a abraçava ainda mais forte.
  Sentiu-a desprender-se de seus braços, lançando-lhe um olhar austero que nunca havia feito antes. Seus olhos cuspiam verdades raivosas, sem mais esperar disse:
  – O problema é justamente esse: eu não te amo. Na verdade, você é o ser mais desprezível que já conheci em toda minha vida.
       E, sem que houvesse tempo para mais confrontações, foram alcançados pelo fim que lhes aguardava.

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