quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Solidão - nem sempre é ruim

    Se eu pudesse argumentar sobre a solidão diria que existem vários tipos e subtipos. E que é muito comum que um indivíduo experimente suas variações ao longo da vida. Algo mais que natural e necessário na formação da consciência de se estar vivo – acredito firmemente.
    Por exemplo: atualmente me acomete um tipo muito cômodo de solidão. Ao qual não sei bem como nomear, entretanto tive certeza de sua companhia há algumas semanas. Na ocasião caminhava displicentemente de volta para minha casa e no caminho minha mente vagava (de forma livre) investigando meu estado atual. O mais notório foi concluir que – nesse momento – esse estado me faz bem. Sinto-me livre e tranquilo como, muito provavelmente, nunca.
    O mais intrigante foi que, ao tornar conhecimento de minha realidade, me embebi num sentimento ainda mais forte e confortante de felicidade. Mais ou menos como se a confirmação desse fato me permitisse ser ainda mais livre e usufruir de suas implicações sem os medos e os pudores que uma condição velada poderia me trazer.
    Já passei, porém, por outros estados de solidão não tão agradáveis como o que agora me acompanha. E devo dizer que não foram momentos de um gosto tão saboroso, mas de importância igual ao de hoje. Afinal de contas a construção do ser se dá através de todo tipo de vivencia e não poderia menosprezar os aprendizados de algo assim. Melhor entender e domesticar as angústias ao deixa-las livres para causar incomensuráveis danos à alma – seja a minha, ou a aquelas que buscam resgatar-me.
    Infelizmente, esse tipo de conhecimento nos é apresentado após perdas significativas. Assim funcionam as coisas ruins que participam de nossas fundações morais como os pilares de “algo que se deve evitar”. Queixo-me e sinto profunda vergonha desses fatos, no íntimo não nego sua existência e funcionalidade.
    Entretanto, não vou me ater a esses sentimentos pesados. Hoje estou feliz por minha descoberta da “boa solidão”, assim vou chama-la, que me possibilitou uma paz de espirito fundamental para minha caminhada atual. Existem momentos na vida nos quais é importante estar sozinho e, mais que isso, sentir-se bem consigo mesmo dessa forma.
    Sei que esse é um estado temporário – e por mais gostoso que seja, é melhor que o seja – e que há muitos outros estados que transitarão por minha vida. Ninguém é uma coisa só, ninguém funciona de uma única forma mesmo quando submetido às mesmas situações. Essa é uma das belezas da vida e as aprecio profundamente. Somos seres mutantes, complexos e cheios de intricados códigos pessoais, grupais, familiares e sociais.
    A visão de nossas vidas se dá através da lente que está há frente de nossos olhos. Uma lente cheia de camadas que vão se modificando ao longo do dia. Algumas variáveis são mais persistentes e internas enquanto outras são tão efêmeras e superficiais como um sorriso.
    A solidão é uma dessas mais fixas que se alternam de forma mais moderada e progressiva, ao passo que o interlocutor é algo que pode mudar incontáveis vezes em uma mesma hora. Esses charmes que só a mente humana é capaz de criar e manipular buscando sempre uma forma mais favorável a suas necessidades.
    Minha necessidade atual é a solidão, só através dela poderei saciar meus anseios e cumprir com metas estabelecidas por meu consciente – quiçá inconsciente mesmo. A confusão do “compartilhar” nesse momento não me traria benefícios, digo mais: seria uma distração com a qual não posso me dar ao luxo. Há um momento certo para tudo e esse é o meu momento certo para a solidão. Sem culpas, sem dores, nem mágoas, apenas uma companheira silenciosa que conforta minhas ansiedades e quereres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário