domingo, 20 de março de 2011

Cautela

    Estava eu entrando despreocupadamente na cozinha escura. Na minha casa ando feito um zumbi, já sei onde estão às coisas e muitas vezes a preguiça me impede de acender algumas luzes.
    Segui meu rito até chegar a pia, onde depositei cuidadosamente minha xícara de café. Foi então que tomei consciência de um erro, algo simples: estou descalço.
    E qual o problema de se estar descalço? Bom, eu mesmo não ligo pra isso. Mas a questão aqui era que eu havia quebrado dois potes de vidro na cozinha naquele mesmo dia... e mesmo com uma inspeção cuidadosa sempre fica algum pedaço microscópico – ou nem tão microscópico assim – pra traz.
    Eu não sei se vocês já repararam isso, mas o fato de perceber que estamos realizando uma ação de forma descuidada faz com que a possibilidade de erro se torne mais forte. Puramente psicológico, mas vai explicar isso pra minha cabeça.
    Lá estava eu, estático. Imaginando quais as chances de, ao fazer o caminho de volta, acertar um maldito caco de vidro que me daria o trabalho de tirá-lo do meu pé.
    Fico pensando nas possibilidades: posso sair correndo e seja o que deus quiser; ou posso andar pé ante pé tentando refazer meu caminho na ida, que tinha sido bem sucedido ate então.
    Me virei calmamente e fui caminhando em passos leves, tentando sentir o chão antes de colocar o peso do meu corpo sobre o pé. Um, dois, três.... quatro, já estou quase na sala, dá até pra ver a luz do corredor, só mais um passo e.... Ai!
    Inevitável, chutei a quina da mesinha. A pequena chuva de palavrões foi impossível de se segurar, ao menos não havia ninguém pra escutar. Tanto cuidado pra não pisar em um caco de vidro que esqueci da mesinha na entrada da sala. E como dói acertar com o dedinho uma quina de madeira.
    Se você quer saber: melhor teria sido cortar um pouco o pé, pelo menos assim, a dor seria resultado de algo que eu já estava esperando.

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