Era uma linda noite naquela pequena ilha tropical no meio do pacífico. A visão das estrelas e a lua pela metade abundavam o céu praticamente limpo de nuvens, talvez um presságio do que estava por vir.
Tirou um cigarro do bolso e, usando apenas uma mão, acendeu-o. Não podia dispor da outra mão para isso, ela repousava sobre o gatilho do rifle que – do topo da trincheira – apontava para a mata escura. Era sua primeira semana na guerra, até ali não tinha enfrentado nenhum japonês. A batalha era apenas contra a multidão de mosquitos e insetos que castigavam toda companhia noite e dia. Muitos de seus companheiros sofriam com febres e tremores constantes.
Pra piorar chovia muito, essa noite estrelada e limpa era um milagre depois de todo um dia de chuva ininterrupta. Ainda assim, o cheiro de terra molhada e mato imperavam no ambiente e a umidade cobrava seu preço: meias e outros pedaços de roupa estavam podres causavam coceiras e feriam a pele.
O ar fresco da noite transportou nosso soldado para um lugar a milhares de quilômetros dali. Lembrou-se da pequena cidade bem no interior do Wisconsin, de fazer planos com seus amigos. Em seguida os viu: um a um indo embora em seus pomposos uniformes de guerra, sentiu-se sozinho e culpado. Passados alguns meses: alistou-se.
Antes de ser mandado para aquela ilha foi informado sobre a morte de dois ou três companheiros de infância. Cartas, bandeiras, choro e honrarias mil, o que queria dizer tudo aquilo? De quem é a culpa por tantas famílias do país desmanteladas tão brutalmente? Tudo que o rádio e seu treinamento lhe responderam foi que a culpa era dos alemães e dos japoneses, sendo a única alternativa responder firmemente – e isso significa só uma coisa: muito sangue ainda seria derramado de ambos os lados.
Foi isso que ele aprendeu durante quase dois anos de treinamento, as palavras de ordem sempre foram: “O inimigo é impiedoso! Ele não se rende e não desiste de lutar, mesmo ferido mortalmente ele pode e vai te matar se tiver a chance.” Sentiu um tremor subir a espinha, mas não era a malária. Era medo, em seu estado puro e muito bem escondido por trás da cara de soldado padrão.
Do alto de seus vinte anos ele não tinha uma noção muito grande de mundo. De fato o mundo para ele se resumia a pequena cidade que deixara dois anos antes, ao ingressar no treinamento que o tornou um marine – alguém pronto para defender seu país, mais que isso: alguém pronto para MATAR em nome dele.
Antes pensava que a realidade a sua volta era suficientemente grande, agora se sentia ínfimo e desimportante. E mais, tinha vergonha de si mesmo ao relembrar coisas simples que descobriu somente após sair do conforto da sua casa. Ao mesmo tempo sua grande vontade era voltar correndo pra lá e escutar as noticias noturnas com seu velho ao lado da lareira sem ter de se preocupar com a possibilidade de levar um tiro, ou voar em pedaços (atingido por um morteiro ou granada).
Sentia falta das pessoas, e dava graças aos céus que seus outros irmãos ou eram muito novos, ou eram mulheres e não podiam lutar como ele. Assim sabia que mesmo não voltando pra casa haveria quem pudesse confortar sua mãe e ajudar ao seu pai com as contas.
Seus olhos pesavam – o sono era traiçoeiro – sua cabeça levou a boca o gosto do café quente com bolinhos que sua mãe fazia nos dias de chuva. Um luxo que, segundo seus oficiais, voltaria a desfrutar antes do natal.
As noticias (sempre muito positivas) dos superiores pareciam não surtir mais tanto efeito. O moral dos soldados se dissolvia pouco a pouco com as chuvas e a falta de “ação”. Alguns chegavam a questionar se estavam no lugar certo, outros apenas rezavam para que os japoneses não chegassem nunca. Nosso soldado apenas achava graça quando alguém comentava algo, por dentro o misto de vontade de lutar e o medo de morrer faziam um perigoso dueto.
Tirou um cigarro do bolso e, usando apenas uma mão, acendeu-o. Não podia dispor da outra mão para isso, ela repousava sobre o gatilho do rifle que – do topo da trincheira – apontava para a mata escura. Era sua primeira semana na guerra, até ali não tinha enfrentado nenhum japonês. A batalha era apenas contra a multidão de mosquitos e insetos que castigavam toda companhia noite e dia. Muitos de seus companheiros sofriam com febres e tremores constantes.
Pra piorar chovia muito, essa noite estrelada e limpa era um milagre depois de todo um dia de chuva ininterrupta. Ainda assim, o cheiro de terra molhada e mato imperavam no ambiente e a umidade cobrava seu preço: meias e outros pedaços de roupa estavam podres causavam coceiras e feriam a pele.
O ar fresco da noite transportou nosso soldado para um lugar a milhares de quilômetros dali. Lembrou-se da pequena cidade bem no interior do Wisconsin, de fazer planos com seus amigos. Em seguida os viu: um a um indo embora em seus pomposos uniformes de guerra, sentiu-se sozinho e culpado. Passados alguns meses: alistou-se.
Antes de ser mandado para aquela ilha foi informado sobre a morte de dois ou três companheiros de infância. Cartas, bandeiras, choro e honrarias mil, o que queria dizer tudo aquilo? De quem é a culpa por tantas famílias do país desmanteladas tão brutalmente? Tudo que o rádio e seu treinamento lhe responderam foi que a culpa era dos alemães e dos japoneses, sendo a única alternativa responder firmemente – e isso significa só uma coisa: muito sangue ainda seria derramado de ambos os lados.
Foi isso que ele aprendeu durante quase dois anos de treinamento, as palavras de ordem sempre foram: “O inimigo é impiedoso! Ele não se rende e não desiste de lutar, mesmo ferido mortalmente ele pode e vai te matar se tiver a chance.” Sentiu um tremor subir a espinha, mas não era a malária. Era medo, em seu estado puro e muito bem escondido por trás da cara de soldado padrão.
Do alto de seus vinte anos ele não tinha uma noção muito grande de mundo. De fato o mundo para ele se resumia a pequena cidade que deixara dois anos antes, ao ingressar no treinamento que o tornou um marine – alguém pronto para defender seu país, mais que isso: alguém pronto para MATAR em nome dele.
Antes pensava que a realidade a sua volta era suficientemente grande, agora se sentia ínfimo e desimportante. E mais, tinha vergonha de si mesmo ao relembrar coisas simples que descobriu somente após sair do conforto da sua casa. Ao mesmo tempo sua grande vontade era voltar correndo pra lá e escutar as noticias noturnas com seu velho ao lado da lareira sem ter de se preocupar com a possibilidade de levar um tiro, ou voar em pedaços (atingido por um morteiro ou granada).
Sentia falta das pessoas, e dava graças aos céus que seus outros irmãos ou eram muito novos, ou eram mulheres e não podiam lutar como ele. Assim sabia que mesmo não voltando pra casa haveria quem pudesse confortar sua mãe e ajudar ao seu pai com as contas.
Seus olhos pesavam – o sono era traiçoeiro – sua cabeça levou a boca o gosto do café quente com bolinhos que sua mãe fazia nos dias de chuva. Um luxo que, segundo seus oficiais, voltaria a desfrutar antes do natal.
As noticias (sempre muito positivas) dos superiores pareciam não surtir mais tanto efeito. O moral dos soldados se dissolvia pouco a pouco com as chuvas e a falta de “ação”. Alguns chegavam a questionar se estavam no lugar certo, outros apenas rezavam para que os japoneses não chegassem nunca. Nosso soldado apenas achava graça quando alguém comentava algo, por dentro o misto de vontade de lutar e o medo de morrer faziam um perigoso dueto.
(continua...)
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