quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Missão biscoito

    Quando menino eu corria de um canto a outro da casa atrás de alguma coisa gostosa pra comer, era quase como uma missão espiã em território inimigo. Algumas partes percorridas pé ante pé para não despertar suspeitas quanto aos meus movimentos. Um pouco mais afrente – livre de qualquer perseguidor – continuava a incursão em um golpe de velocidade para que não fosse detectado pelos possíveis sentinelas do caminho.
    Já estava próximo ao objetivo, tamanha era a tensão que sentia o ar pesado. Antes de adentrar o território da cozinha sempre avaliava ruídos e possíveis movimentações inimigas próximas ao perímetro – no caso de qualquer suspeita era preferível abortar a missão. Na fase seguinte da empreitada me deslocava rumo ao objetivo chegando até a parte de baixo do armário.
    E agora? Como subir? Nada tema, pois, para um bom espião uma pequena escalada nunca chega a ser problema, mesmo não contando com equipamentos adequados me aperfeiçoei na arte dos improvisos. Uma gaveta pra fora, a outra um pouquinho e assim já tenho uma escada até o nível superior – tudo isso e nem cheguei a suar.
    Rapidamente vou me movimentando através do balcão e encontro o armário desejado. Lá está o segredo do “inimigo”: biscoitos (em geral) e de chocolate. A fase de captação da missão está cumprida! Parabéns senhor, mas ainda falta o caminho de volta e há tantos riscos quanto na ida.
    Uma pequena avaliação quanto à altura me mostra favorável o salto, entretanto com cuidado – não queremos atrair a atenção de nenhuma sentinela, não é mesmo? Como um felino amorteço minha queda de forma impecável, paro por um segundo buscando avaliar se minha movimentação continua desconhecida.
    O pacote está... onde está o pacote?! Em cima do balcão é claro, não poderia arriscar sua integridade ao saltar, perfeito. Fecho cuidadosamente as gavetas que me serviram de escada e novamente verifico o perímetro. Estou pronto pra iniciar a travessia de volta.
    O que é isso? Escuto passos, droga... toda a missão pode estar comprometida. Tenho somente uma chance, meu coração bate forte e posso ver meu peito balançar a cada batida. Aliso o pacote, preparo minha mente e corpo. Não há mais volta, começo um deslocamento frenético de volta a base, não olho pra trás – poderia ser fatal.
    Chego à base e me atiro por detrás das trincheiras e espero deixando a mostra somente um pedaço ínfimo de minha cabeça. Nada, completo silêncio. Parabéns senhor, seu trabalho está completo. Pode desfrutar os louros de seu esforço. Amanhã será outro dia e é melhor que esteja alerta para o caso de ser novamente necessário infiltrar-se em território hostil.

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