quarta-feira, 16 de março de 2011

Um vício


    É engraçado, mas tentar fazer algo positivo soa tão piegas que faz doer meus ouvidos. Estaria eu tão contaminado pelo negativismo que não consigo escrever nada alegre?
    “É melhor ser alegre do que triste” já dizia Vinicius de Moraes. Mas também foi ele quem, na mesma canção, disse: “... mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza...”.
    Realmente, mais vale viver feliz do que triste. Mas como são belas as palavras ditas na tristeza. Um tom de conforto e desabafo, sempre tão esperados e bem vindos.
    Os romancistas eram levados a ter orgasmos por musas virgens que morriam antes de poder experimentar o amor carnal. Malucos? Apenas um gosto, era o que os movia. Um ópio.
    O meu ópio é a tristeza. Mas não se engane, isso não quer dizer que eu seja uma pessoa triste. Muito pelo contrário, me considero animado e de bem com a vida.
    A coisa acontece quando eu leio, ou escrevo um poema um pouco mais “sombrio”. O gosto que se sente é muito diferente. Imagine um vinho: há quem goste dos doces e suaves, pois bem, eu gosto dos secos e encorpados – do tipo que chega a dar uma travada na boca.
    E esse meu gosto pelo taciturno – gastei agora, não é? – têm feito difícil achar harmônicas minhas palavras quando as coloco num tom um tanto mais alegre. Elas, quando colocadas numa disposição suave, perdem o sentido para mim. Chegam a  ganhar o gosto das tão temidas correntes de e-mail, coisa extremamente irritante.
    Essa é uma dessas esquisitices de gente que acha que sabe alguma coisa sobre qualquer coisa. Gente que acha que sabe escrever, uns idiotas como eu. Pensa que pode escolher o que é bom e o que não presta. Mera ilusão.
    Talvez eu consiga encontrar o cominho para algo mais suave. Mas enquanto isso não sentirei culpa por apreciar os gostos mais secos e um tanto amargos desse mundo.

Um comentário:

  1. Nossa leo, I couldn't agree more..
    tbm aprecio os secos e amargos, até dos vinhos.. acho que nesses momentos podemos sentir no âmago(gastei tb, ^^) um pouco da realidade (algo mais duro, denso)
    às vezes como um momento de clareza..
    e com ctz como algo mais intenso do que um vagar anestesiado, e que, por isso, eu considero como um pedaço do viver de verdade.. até mesmo importante para conseguir sentir o gosto do que é doce, e valorizar a felicidade, o que é mind-blowing..
    Bjs

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